Não lembro de ter ter chorado em algum momento na infância pelo Fluminense.
Como acompanhava os jogos ao lado do meu pai, seu comportamento, invariavelmente oscilava da irritação para o entusiasmo.
Tudo, evidentemente, passava pelo resultado.
Não havia meio-termo com seu Waldemar.
Meu coroa era daqueles de xingar técnico, jogadores e juiz.
Mas lamentar, ficar triste, verter lágrimas…jamais.

Pena não ter nenhuma foto sua com a camisa tricolor.
Muito menos um registro ao seu lado.
Os flashes estão na memória.
Na década de 80, máquina fotográfica era para gente abastada.
O que não era o nosso caso.

As fotografias são do meu tio Valmor.
Que ratificam nosso DNA tricolor.
A hereditariedade foi quebrada pelo Denilson.
Era o mano mais velho.
O Flamengo de Zico explica o “acidente”.

Fui forjado desse jeito.
Além da herança clubista, a genética também me vacinou como um cara “insensível”.
Pois me levo à sério demais.
Principalmente no ambiente de trabalho.
Porém, em momentos de lazer assumo minha verdadeira identidade:
Sou parceiro, intenso e por vezes emotivo.

Prometi para mim mesmo agir com naturalidade, sem exagero ou lamentação, caso o Fluminense fosse campeão ou não.
No entanto, não me aguentei após o apito do colombiano Wilmar Rondán.
Chorei de felicidade ao ver meu tio Valmor em prantos.
Bem como seu filho Julio.

Não tenho dúvidas que a tia Marli, que não desceu para comemorar, também chorou, de forma copiosa.
Pelo marido.
Pelo filho.
Pelo presente.

Estávamos lá no bairro Água Verde.
Todos abraçados, agarrados, extasiados…
Meus pequenos vibrando juntos.
Personificando o avô ausente (fisicamente).

De arrepiar.
Como mostra esse vídeo filmado pela Roberta.
alexandrejose.com/wp-content/uploads/2023/11/video-.mp4

Não queria limitar esse contentamento em algo pessoal.
Por isso, ao longo da semana, fui atrás de fatos e fotos para ampliar essa vitória mágica.
Recebi um retorno tão bacana, com histórias ricas, e não menos emocionantes.
Como a da família Formento.
Que perdeu o patriarca esse ano.
Seu Chico sonhava com o título da Libertadores.

Foi honrado e dignamente representado pelo Jean e pelo Jenilson.

Pela esposa, dona Graça, que torcia pela felicidade do marido e dos filhos.
Além do irmão palmeirense Jeferson e demais parentes.

Seu Chico ficou ainda mais sereno.
Em paz com seu coração verde, branco e grená.

Giovani Vitória tem um relato parecido.

O jornalista perdeu o pai em 2018.
Dois anos antes, Seu Lírio conduziu a tocha olímpica pelas ruas de Blumenau.

Nas suas redes sociais, antes da decisão, escreveu um texto (profético) em sua memória:
“O futebol não é guerra! O futebol é um jogo! Um jogo que une! Cria laços!
Laços como esse que criei com meu PAI!
Quis o destino que você conquistasse a Glória Eterna antes do nosso Flusão! Dois anos após você vivenciar um dos maiores momentos da tua vida!
Mas sei que hoje você vai estar presente lá no Maraca, a casa do nosso tricolor! Dando aquele empurrão para conquista desse tão esperado sonho!
Esse título será em tua homenagem!
MEU PAIZÃO!
SEREMOS!

E prosseguiu parafraseando Nelson Rodrigues:
“Quando o Fluminense precisa de número, acontece o suave milagre: os tricolores vivos, doentes e mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas”.

Conheço Luciano Carlos desde a década de 90.
Todavia, não sabia que todos os seus irmãos eram tricolores.
Eles se reuniram na casa de um deles e fizeram uma grande festa.

Melhor de tudo é saber que existe uma nova safra de torcedores surgindo.
Era necessário rejuvenescer.
Por livre e espontânea pressão (ou não).

Só que alguns sentimentos são naturais e extraordinários.
Como a vinda do Pedro.
Que nasceu na semana da final.
Exatamente no dia 30 de outubro (segunda-feira).

O pai, Allan, não perdeu tempo, e já vestiu o mantinho tricolor no filhote.
Juntos, na casa de parentes e amigos, no bairro Itoupavazinha, presenciaram a glória definitiva.

Eu, por outro lado, admito que tive de fazer um trabalho, digamos, psicológico, para tentar convencer meus filhos a se tornarem Fluminense.
A Taysa nasceu em 2013.
Ela viu o principal rival ganhar quase tudo.
Se não houvesse uma lavagem cerebral eu teria um desgosto profundo.
O último grande feito foi o Brasileiro de 2012.

Foi uma grande seca.
Que acabou em 2022 com o campeonato carioca.
Veio o bi em 2023.
E por fim, a taça tão almejada.
Não tem mais volta.

O amor da Tatá pelo Flusão é tanto que essa semana, por coincidência, ela teve de fazer uma atividade sobre um ídolo, uma referência.
E eu achando que era o cara!

Fui trocado pelo Cano.

Por uma ótima causa.

O Tales, por sua vez, com seus 5 anos, teve seu caminho pavimentado na imposição mesmo.
Exagerada do pai, reconheço.
Não podia dar mole.
As crianças são facilmente influenciadas.
Especialmente pelos amiguinhos da creche e do futebol.

Tato frequenta a escolinha do Planet Ball.
Seu professor é Ricardo Leonetti, ex-goleiro do Flu.

Outro que veio aos prantos com o triunfo diante do Boca.

Amor que repassou ao filho Ricardinho.

Tivemos outros fatos marcantes.

Festa nas casas, nos apartamentos, nos bares, na Alameda…

E no próprio Maracanã.

Não há fortuna que pague o que Carlos Medeiros, carinhosamente chamado de Pipoca, e Juan sentiram no último dia 4.
Pai e filho.
Juntos.
Não consigo mensurar o tamanho da felicidade dos dois.

Que Deus me permita, um dia, poder vivenciar um fato tão grandioso.
Isso sim é ser rico.
Eternamente.

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é comentarista do Programa Alexandre José, na Rádio Clube FM 89.1, nas segundas, quartas e quintas-feiras, às 7h40. Também atua como apresentador, repórter e produtor no quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV RecordTV Blumenau. Além de boleiro na Patota 5ª Tentativa.
