InícioMárcia PontesMárcia Pontes: Dirigir com ressaca é o mesmo que dirigir embriagado

Márcia Pontes: Dirigir com ressaca é o mesmo que dirigir embriagado

Mal estar, dor de cabeça, sede, enjoo, vômitos e a sensação de ter uma bandinha alemã inteira tocando dentro da sua cabeça não são os únicos prejuízos da ressaca, que provoca desidratação e sobrecarga do fígado que já é muito exigido para eliminar o álcool do sangue. Dependendo da quantidade de álcool consumida o organismo fica intoxicado, prejudica a cognição do condutor incluindo a atenção, a memória, coordenação e habilidades de direção. As festas de Outubro reforçam a necessidade de se falar sobre isso para que os motoristas evitem dirigir de ressaca e não potencializem o risco de sinistro de trânsito.

O fato é que os efeitos do álcool permanecem no organismo por algum tempo após a ingestão, mesmo depois que as substâncias presentes nas bebidas alcoólicas tenham deixado a corrente sanguínea. A náusea, desconforto, dores de cabeça e estômago somado à sensibilidade à luz distraem o motorista. Se ele dormiu pouco então, somam-se os sintomas de dirigir com sono e cansaço, que por si só já são capazes de produzir efeitos análogos ao de uma pessoa embriagada. 

Ainda que o álcool permaneça no organismo por cerca de 10 horas a duração da ressaca pode ser o dobro desse tempo. 

Reflexo lento

Geralmente durante a ressaca o nível de álcool no organismo é em torno de 0,02%. Quase nada, né? Mas, já é o suficiente para comprometer as habilidades motoras para dirigir e retardar os reflexos. O que mais afeta são as funções chamadas “executivas” para dirigir, que diz respeito à tomada de decisões e resoluções de problemas. 

Ao contrário do que se pensa não existem níveis seguros para o consumo de bebidas alcoólicas. Na verdade, um motorista que dirige de ressaca pode ser tão perigoso e oferecer os mesmos riscos de um motorista que dirige embriagado em níveis maiores de alcoolemia. 

É importante que a pessoa controle a quantidade de álcool ingerida e saiba ouvir os sinais do próprio corpo. Se for necessário aguarde até 24 horas, ou mais, para voltar a dirigir sem comprometer as suas funções cognitivas usadas nessa tarefa. 

A trajetória do álcool

Após a deglutição o álcool percorre um caminho complexo pelo organismo. Chegando ao sistema digestivo ele é distribuído para a corrente sanguínea. É a partir desse momento em que começam as sensações de euforia e tontura.  

A cada gole a bebida desce pelo esôfago e chega ao estômago, onde cerca de 20% das moléculas de etanol são absorvidas e entram no sangue. Os outros 80% passam direto para o intestino delgado, onde as moléculas de etanol são absorvidas e caem na corrente sanguínea novamente. 

A partir daí essas moléculas são transportadas para todos os tecidos do corpo, principalmente para o fígado, cérebro, rins e coração. 

O fígado, por sua vez, tem um tempo de resposta entre 4 e 6 horas (e até mais dependendo do caso) para quebrar as moléculas de etanol em partes menores até serem transformadas em gás carbônico e água. Apenas 10% é eliminado pela urina, suor e pela respiração. 

Metabolismo

A capacidade de o organismo processar o álcool depende de vários fatores como a idade, o peso e o sexo. Mas isto acontece sempre muito lentamente. O organismo elimina, em média, 0,10 g/l de álcool no sangue, por hora, e não há um modo de acelerar esse processo. 

A metabolização completa depende de uma série de variáveis como sexo, peso, se a pessoa bebeu de estômago vazio, se intercalou bebida e alimentação e até o tipo de comida, pois ao ingerir uma maior quantidade de gordura presente em queijos e linguiças, por exemplo, é como tentar apagar fogo com gasolina. 

As pesquisas demonstram que as mulheres são bem mais sensíveis ao álcool do que os homens, pois elas têm uma quantidade menor de enzimas que quebram as moléculas de álcool. 

Já as pessoas mais magras, por terem menos tecido adiposo ficam embriagadas por mais tempo. Isso acontece porque o álcool exige tecido gorduroso para se dissolver. 

Mesmo depois de eliminado do organismo o álcool ainda deixa consequências como os enjoos, sensação de mal estar, boca seca, dores de cabeça, oscilações de humor, sensibilidade à luz e ao som.

Ah, e para quem repete a dose da noite anterior para “rebater” a ressaca só está piorando as coisas, tornando o processo de eliminação do álcool ainda mais lento e intoxicando ainda mais o organismo. Por consequência vai sentir mais os sintomas da ressaca e o mal estar. 

Bafômetro

Se tem uma coisa que não se consegue maquiar são as quantidades de álcool no sangue por ar alveolar e é isso que torna o teste de etilômetro de alta confiabilidade e precisão. 

Não adianta ingerir bala de hortelã, chocolate ou qualquer outro tipo de alimento para tentar baixar os níveis de álcool no organismo. 

Isso porque o etilômetro ou popular bafômetro mede a quantidade de álcool por ar alveolar expelido pelos pulmões. Isso faz com que mesmo de ressaca, se for uma daquelas das brabas, seja detectado níveis que caracterizam a infração de trânsito (até 0,33 mg/L na tela do etilômetro) e até o crime de trânsito se na tela do bafômetro aparecer de 0,34 mg/L para mais. 

O simples fato de recusa ao teste já é o suficiente para autuar nas mesmas condições do artigo 165 por infração de trânsito como se tivesse bebido: infração gravíssima, multa multiplicada por 10 e suspensão do direito de dirigir por 2 meses. Recolhe a habilitação e o veículo é retido até que um condutor habilitado na mesma categoria venha buscá-lo. 

Mas, pensa num tipo de autuação difícil de ganhar o recurso, tá?

Consciência

Consciência e responsabilidade definem o comportamento do condutor que ingere bebida alcoólica em qualquer situação, não só no caso da Oktoberfest. Observar isso também em relação à ressaca. 

Vai a pé, vai de táxi, de aplicativo de transporte, de carona com alguém sóbrio, se diverte sem as consequências de provocar sinistros de trânsito, lesões e morte em outras pessoas e em si mesmo. 

A lei não proíbe beber, o que ela proíbe é beber e dirigir, coisa que qualquer um pode prever e assumir os riscos. Isso vale também para certos tipos de drogas e até medicação controlada. 

Boa festa para quem é de festa, mas a sua irresponsabilidade fantasiada de alegria não pode custar a vida de ninguém. Seja a sua própria ou a de quem vai cruzar o seu caminho. 

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