O “Dia Mundial da Saúde Mental” foi lembrado na última terça-feira (10).
Data criada somente em 1992.
Pois lidar com sentimentos ainda é um tabu.

É raro o ser humano admitir que não está bem.
Mais difícil ainda é pedir ajuda.
Em um mundo cada vez mais doente.
Cujo quadro se agravou depois da pandemia.

A enfermidade é democrática.
Atinge pobres e ricos (de dinheiro).
Famosos e anônimos.
Todos nós temos problemas.
Uns mais.
Outros menos.
O disfarce pode ser manipulado de várias maneiras.
Mas, a mente não dorme.

Certa vez um amigo me disse:
“Conto as horas para jogar futebol com minha turma. É uma necessidade, a válvula de escape, onde desconto o estresse de todos os dias”.
Na época, eu não participava de nenhum grupo de pelada.
Também não era pai.
Não tinha tantas responsabilidades, preocupações e boletos tão pesados para pagar.
Talvez por isso não tenha levado seu discurso ao pé da letra.

Entretanto foi só ingressar em uma patota para lhe dar toda a razão.
Em 2018, já com uma criança de poucos meses em casa, fui convidado pelo amigo Maicon Piske para fazer um teste.

Cheguei quietinho, solidário.
Acredito que contribuí em campo.
Mesmo em patota, nenhum pereba se cria.
Muito menos o cara que se acha estrela.
E ainda por cima fominha.

Gostei da turma.
Principalmente fora de quadra.
Cerveja, churrasco, zoação e rivalidade entre os integrantes/torcedores.

Pena que não foi adiante.
O trânsito era um dos culpados pela falta de boleiros (passava o horário e às vezes não tínhamos 10 para jogar).
Isso afetou a resenha (cada vez menos gente ficava).
A carne (sagrada e combinada antecipadamente) passou a ser comprada depois do jogo.
O que afastou ainda mais o pessoal do convívio.

Entre eles, o Maicon, um sujeito extremamente metódico.
Por lealdade à sua indicação e por ter também o desejo de fundar uma patota, saímos juntos.
Com o coração partido, porém torcendo para que essa turma gente boa pudesse continuar.

O Beto Fumagalli, vitalício presidente da patota (que não tinha nome e muito menos regras oficiais) ficou bem chateado com nossa posição e jurou que o grupo jamais se acabaria.
O problema é que veio a pandemia.
A galera teve de dar um tempo.
Não conseguiu mais se reunir.
Quis o destino que a maioria dos integrantes fosse fazer parte da Patota 5ª Tentativa.
Que nasceu em outubro de 2019.

Estão lá no Planet Ball Garden desde então: Butse, Chalegol, Paulo, David, Bicudo, Felipe, Nogara, Gustavo e Alemão.
Migraram 11 cabeças.
O espírito foi mantido.
Com organização.
Com normas.
Com multas.
Todos os patoteiros foram convidados, mas os demais, leais ao Beto (admiro isso), preferiram não se juntar aos “traíras”.

No fim, não é fácil lidar com pessoas.
Gerenciar o comportamento de cada um.
Que pode fazer o que bem entender da vida, desde que tenha, no dia do encontro, comprometimento.

Trouxe esse exemplo para lembrar que ações e omissões podem gerar mágoas, conflitos e até mesmo adoecimento.
Cada cabeça uma sentença.
Existem manifestações que fogem do controle das pessoas.
Como as enchentes.
Imagina a tristeza de quem foi atingido.
Perder o que foi construído com tanto suor.

Nada, contudo, se compara à morte de alguém da família.
Meu pai faleceu em setembro de 1993.
Seu Malinho foi meu herói e meu bandido.
Estava com 22 anos de idade.
Entrei em desespero.
Não perdi o prumo e o rumo por pouco.
Minha mãe e meus irmãos sempre foram a razão e o porquê de voltar para casa.

Só que na vida, quando você acha que está recuperado, recebe outra pancada.
Em setembro de 2009 meu tio mais chegado, grande parceiro da família, nos arrebentou.
Ilson Machado decidiu tirar a própria vida.
Aos 42 anos.
Deixou esposa e duas filhas.
Foi um choque tão grande, tão dolorido, que me recusei a ir no velório.
Até hoje não consigo aceitar sua atitude.

Como se não bastasse veio outra porrada.
Um ano e quatro meses depois.
Denilson, meu irmão mais velho, que já não andava legal, por conta de um casamento fracassado, ficou ainda pior com a partida do Ilson (foi o primeiro a chegar na casa e ver a deprimente cena), e nos deixou.
Também prematuramente.
Só tinha 40 anos.
Nesse caso específico, a barra mais pesada recaiu sobre a dona Irma.
A lógica foi contrariada.
Nenhuma mãe/pai merece enterrar um filho.

Cada ser humano resiste e luta (ou não) de formas diferentes.
A dor não cicatriza.
Só quem conhece sua história tem condições de fazer julgamentos.
Muitos confundem timidez com arrogância, por exemplo.
Um ato precipitado e tolo.
Que não raro, produz animosidade.

Diante de tantas futilidades, é vital ocupar a mente.
Com música, dança, filmes, séries, novelas, livros, amigos…
Amigos do peito (porque colegas temos aos montes).
Além de membros da família que possuem conceitos e “defeitos” parecidos.

É imprescindível interagir, se entreter, dar risada com pessoas do bem.
Que te querem bem.

Que não sabotam sua felicidade.
Que não cobiçam suas conquistas.
Que aplaudem teu sucesso.

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é comentarista do Programa Alexandre José, na Rádio Clube FM 89.1, nas segundas, quartas e quintas-feiras, às 7h40. Também atua como apresentador, repórter e produtor no quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV RecordTV Blumenau. Além de boleiro na Patota 5ª Tentativa.
