14 de setembro de 1997.
Estádio Centenário.
Caxias do Sul RS.

Campeonato Brasileiro da Série C.
Caxias 2 x 0 Blumenau.
Os dois gols da vitória gaúcha marcados pelo centroavante Washington.
Os dois gols da derrota do BEC sofridos por Ricardo Leonetti.

Na época, trabalhando como repórter, entrevistei os dois principais personagens daquela partida.
Washington pelo poder de decisão.
E Leonetti, escolhido pela equipe de esportes da Rádio Blumenau, como o melhor em campo.
Mesmo com a derrota.
Quis o destino que ambos de se reencontrassem no último domingo (10) em evento promovido pela FluTimbó para celebrar jogadores que marcaram história no Fluminense.

Washington, o “coração valente” foi a principal atração.
E entre todos os homenageados é o que recentemente conquistou (junto com o volante Diogo que também esteve no Recanto Tirol), o título de maior expressão, o Campeonato Brasileiro de 2010.

A vida só me deu mais uma prova de que as pessoas não mudam sua essência.
Que a humildade não é afetada com o decorrer do tempo e a fama.
O centroavante parecia ser o mesmo cara com quem conversei há 26 anos no Rio Grande do Sul.
Tirei uma foto com ele.
Todavia, nem toquei no assunto.
Não precisava.

Washington se mostrou prestativo e paciente com todos.
Chamado ao palco mandou muito bem como cantor.

Assim como Paulo Victor (tricampeão carioca 1983/1984/1985 e campeão brasileiro 1984).
Figurinha carimbada dos encontros.
O homem “agita”.

É sempre um atrativo.
Junto com Romerito.
Mais discreto.
Não menos carismático.
O paraguaio foi bicampeão carioca 1984/1985 e campeão brasileiro 1984 quando fez o gol do título contra o Vasco.

Notem que de todas essas figuras emblemáticas ninguém é cria do Fluminense.
Todos aportaram nas Laranjeiras com biografias pesadas.
Washington defendeu Internacional, Grêmio, Paraná, Atlético PR, Fenerbahçh-Turquia, Tokyo Verdy-Japão, seleção…

Romerito antes de desembarcar no Rio de Janeiro jogou na seleção e com Pelé no New York Cosmos.
Só isso.
Paulo Victor é uma exceção.
Ralou por nove anos no CEUB e Brasília DF, Operário MT, Vila Nova GO e Vitória ES.

Por isso que o assédio em torno de Ricardo Leonetti (12 anos de Fluminense, sendo 7 morando na concentração) me deixa feliz demais.
Bem como o carinho e respeito com Walbert.
Dois pratas da casa, que jogaram pouco no profissional, por conta da acirrada concorrência.

O ex-ponta esquerda foi campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 1986.
Na mesma temporada fez parte do elenco que disputou o Campeonato Brasileiro.
Com 20 anos de idade.
Atuou em sete jogos.
Marcou dois gols.

Já o ex-goleiro, titular em todas as categorias de base, integrou o grupo de 1984 – campeão carioca e brasileiro.
Ficou dois anos no time principal.
Mas não havia espaço para o garoto de 21 anos.
Que estava “voando”.

Como me confidenciou o próprio Paulo Victor ano passado:
“Eu não dava brecha mesmo. Qualquer vacilo poderia custar minha titularidade. Além de Paulo Goulart (seu reserva imediato) tinha o Leonetti, jovem, motivado, que vinha pedindo passagem”.

E por mais uma dessas coincidências (desta vez contrastando com a trajetória futebolística), Paulo Goulart se despediu temporariamente do universo, nesta sexta-feira (15), após sofrer um infarto em Muriaé MG, sua terra natal.
Estava com 68 anos.
Ao receber a notícia, Ricardo Leonetti lamentou.
Todavia, lembrou que os dois viveram grandes momentos juntos.
Foram grandes parceiros.
Dentro e fora de campo.

Ao deixar o Flu, Ricardo Leonetti foi para o Botafogo SP.
Depois para o Atlético GO.
Onde foi escolhido o melhor da posição no estadual.

Virou ídolo.
Ficou em Goiânia de 1985 à 1989.

Veio para Santa Catarina em 1994.
No Juventus de Jaraguá do Sul arrebentou!
Foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Catarinense.
Sua fase era impressionante.
Tanto é que recebeu uma proposta irrecusável do Marcílio Dias.

Léo admite que não foi bem em Itajaí.
Tanto é que se apresentou no BEC em 1996 (trazido pelo presidente Alencar Farias, recém falecido), fora de forma, pesado…
Foi massacrado pela crônica esportiva blumenauense.
Que naqueles tempos era forte e independente.

Em meio a profissionais tarimbados e polêmicos, eu era um moleque com menos de cinco anos de carreira.
Mas que estudava bastante o currículo dos jogadores antes de fazer qualquer tipo de julgamento ou veredicto.
Acima de tudo confiava no seu poder de recuperação.
Afirmava constantemente que Leonetti daria a volta por cima.
O começo, de fato, foi difícil.
Contudo, com muita dedicação nos treinamentos, baixou o peso, passou a ganhar ritmo de jogo, tempo de bola, readquiriu a confiança e voltou a ser um paredão.
Daqui não saiu mais.

Até hoje ele e sua esposa, Marilene Guenther, a Leninha (os dois se conheceram em Blumenau e tiveram um filho, Ricardinho), são gratos pelo apoio, pois fui dos poucos da Imprensa que acreditaram no seu potencial.

Digo sempre que esse posicionamento imparcial era uma obrigação profissional e que nunca busquei nada em troca.
Mesmo assim, fazem de tudo para retribuir minha confiança.
A reciprocidade é a mesma.
Verdadeira.
Pois a família é gente boa demais.

Por conta dessa amizade convivemos direta e indiretamente desde então.
Acompanhei Leonetti por três anos seguidos nos encontros de torcedores do Fluminense.

Vê-lo sendo reverenciado pela torcida me emociona.

Porque sei bem o que esse reconhecimento significa para esse gigante de 1,93m com um coração enorme.

Que após se aposentar dos gramados, passou a dedicar sua vida à escolinha de futebol do Planet Ball.
Lá, ele é o “tio Leonetti”, o “campeão”.
O cativante e paciente professor da iniciação.
O competitivo e exigente treinador dos times que disputam torneios.

Desde junho meu moleque de 5 anos é seu aluno.
Está empolgadíssimo!
Sua evolução técnica é nítida.

Porém, isso é o que menos importa.
Ver sua felicidade me enche de orgulho.
Abro mão de muita coisa para levá-lo três vezes por semana no futebol.

Considero Fred o cara mais importante da minha geração.
Perguntei para Celso Ruediger, o organizador das festas, se existia alguma possibilidade de trazer “Don Fredon”, no ano que vem.
Sem chances.
Agenda lotada.
Custo alto.
Por conta de fatos como esses que a idolatria se torna subjetiva.

Meu ídolo mora na mesma cidade que eu.
Posso abraçá-lo quando quiser.
Sentar e tomar uma cerveja.

Relembrar grandes momentos.
Como o amistoso que fez na Itália em 1990.

Quando jogou (e tomou gol) simplesmente de Diego Armando Maradona (que iniciou a partida no banco).

Posso afirmar que sou um privilegiado por fazer parte, de alguma maneira, da sua rica biografia.
Não há preço que pague o relacionamento e os sentimentos que construímos juntos.

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é comentarista do Programa Alexandre José, na Rádio Clube FM 89.1, nas segundas, quartas e quintas-feiras, às 7h40. Também atua como apresentador, repórter e produtor no quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV RecordTV Blumenau. Além de boleiro na Patota 5ª Tentativa.
