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Emerson Luis. Esporte: Guerreiro

A vida já produziu muitos moleques que saíram de comunidades, quebradas, guetos, morros e venceram na vida.

Ganharam fama e dinheiro.

O futebol é um dos maiores exemplos.

Kauan com 3 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal

Futebol que mexeu com a cabeça de Kauan Bruno dos Santos Ribeiro dos 6 aos 12 anos.

O menino da Vila União (atrás do Aeroporto Quero-Quero) sonhava em ser jogador.

Subir no lugar mais alto do pódio virou rotina. Foto: Arquivo pessoal

Até que resolveu priorizar o karatê (de vez em quando ainda bate uma bolinha).

Decisão que mudaria sua vida.

Primeiras medalhas conquistadas. Foto: Arquivo pessoal

Desde então, não colocou limites para alcançar seu objetivo: servir de exemplo.

O título Pan-Americano conquistado em Santiago no Chile premiou sua dedicação.

Kauan foi campeão após cinco vitórias. Foto: Arquivo pessoal

Seu crescimento nos tatames é impressionante.

Um talento moldado e lapidado.

Forjado com muito suor, disciplina e foco.

Além de uma rotina puxada.

Que, implacável, produz muitas desistências.

Foco é uma de suas principais características. Foto: Arquivo pessoal

Kauan é um jovem saudável e atlético.

Tem 19 anos completados em agosto.

Essa vitalidade, naturalmente, ajuda bastante.

Porém, o corre diário é sinistro.

No segundo semestre de educação física. Foto: Arquivo pessoal

Pela manhã, durante toda a semana, o carateca faz faculdade de educação física (2º semestre).

Vai para casa, almoça e dá uma cochilada.

Nas segundas-feiras, das 17h às 18h, atua na Escola Lore Sita Bolmann, dentro do Projeto Social Criança no Esporte, que atende há 18 anos mais de 300 crianças.

A ideia foi criada por Angelica Gaulke e concretizada pelo pai, Charles Gaulke.

Nas terças e quintas-feiras, no mesmo horário, Kauan faz a mesma atividade na Escola Visconde de Taunay, na Rua Franz Volles (onde começou com 6 anos).

Nos demais dias, se torna personal e professor, com aulas particulares.

Kauan durante aula no projeto social. Foto: Arquivo pessoal

À noite, auxilia seu treinador Charles Gaulke no Instituto Itoupava Central de Karatê.

Onde, depois da atividade, ainda arruma tempo para treinar.

Também é árbitro de karatê.

Faz tudo isso pegando carona com a irmã de vez em quando, na ida.

E usando o busão na volta para casa.

Charles e Kauan durante competição. Foto: Arquivo pessoal

Tem sábado que vai a Rio do Sul se aprimorar com Edemilson Gutz dos Santos, hexacampeão brasileiro, com grande experiência internacional.

Com Edemilson Gutz e equipe em Rio do Sul. Foto: Arquivo Pessoal

Nos sábados e domingos, se concentra no namoro.

Que já dura três anos.

A harmonia no relacionamento tem contribuído bastante no seu amadurecimento como homem e atleta.

Seu mestre me confessou que o pupilo chegou a ser derrotado em uma disputa importante porque o casal estava brigado.

Lutando e sendo observado pelo treinador. Foto: Arquivo pessoal

Em qualquer profissão, a cabeça e o coração precisam estar em sintonia.

Perder a concentração, o tesão e largar tudo é rápido.

A maioria não volta.

Afinal, tudo é difícil nas artes marciais.

Um esporte individual.

Cujo sonho custa caro.

Comemorando a vitória no Pan. Foto: Arquivo pessoal

Não importa se você defende o Brasil.

Em um evento de peso, como o Pan-Americano, o máximo que a Confederação Brasileira de Karatê (CBK) ajuda é com a inscrição (R$ 600).

O resto, tem de se virar.

E como eles correram atrás!

Charles e os professores do Instituto Itoupava Central de Karatê. Foto: Charles Gaulke

A viagem para o Chile foi projetada em R$ 20 mil.

Foram nove dias em Santiago.

O que quebrou as pernas nessa conta foi a saída (após um ano de contrato) do patrocinador master.

Que pagou nesse período o salário de Kauan e de outros cinco professores do projeto – eles estão há quatro meses sem receber.

Valor que também ajudava nas despesas das viagens de outros selecionáveis, sem contar no aluguel do Instituto.

Charles Gaulke e Kauan Ribeiro. Foto: Arquivo pessoal

Começava a luta contra o tempo.

Depois de muitas negativas, o vereador Almir Vieira bateu no peito e conseguiu a passagem do atleta.

Com o presidente da casa, Almir Vieira. Foto: Câmara de Vereadores

A passagem de Charles foi comprada com o dinheiro da Vakinha online.

Que arrecadou, por meio de 77 apoiadores, R$ 5.591,40.

O CODEIC (Conselho de Desenvolvimento da Itoupava Central) ajudou a pagar hotel e parte da alimentação.

O Rotary Blumenau também colaborou na comida.

Santiago, capital do Chile, sede do Pan. Foto: Arquivo pessoal

O resto foi arrecadado por meio da união e garra dos pais de alunos do Instituto.

Eles promoveram uma pastelada.

Mães doaram maçãs do amor para vender.

Uma outra mãe fez e entregou 30 pacotes de doces para comercializar.

Todo mundo pegou junto.

E fez acontecer.

Kauan em um ponto turístico de Santiago. Foto: Arquivo pessoal

Kauan Ribeiro derrotou cinco oponentes.

Um norte-americano.

Um panamenho.

Um equatoriano.

Um canadense.

E um brasileiro.

O paulista Matheus Bortolomasi, da cidade de Santos, foi destroçado na última luta (5 x 0).

Campeão Pan-Americano!

A conquista é de todos que não abandonaram esse garoto de ouro.

Valor recebido por Kauan pelo título; Foto: Arquivo pessoal

O feito o habilitou a participar de três importantes competições.

World Combat Games, na Arábia Saudita, em outubro.

Série A, em Portugal, em novembro.

Youth League, em dezembro, na Itália, que vale vaga para o Mundial de 2024.

O orçamento já foi solicitado.

R$ 35.500,00

Se você nasce em uma família rica (de dinheiro), é herdeiro, ganha mesada ou consegue fazer algum tipo de economia, tudo ajuda.

Não é o caso do Kauan.

E de 99% dos atletas de artes marciais.

Por representar Blumenau, Kauan recebe R$ 400 da Secretaria Municipal do Esporte (SME) – na sua estreia em 2021 foi primeiro colocado nos Joguinhos Abertos.

Só de faculdade ele paga R$ 1.200.

Campeão dos Joguinhos Abertos. Foto: Arquivo pessoal

Mesmo mendigando apoio, Kauan não desiste.

Pelo contrário.

De cabeça em pé, com dignidade, insiste, persiste.

Carateca virou ídolo para as crianças. Foto: Charles Gaulke

Isso sim é ser um ídolo de verdade.

Uma referência para as crianças.

Um herói que não usa capa ou chuteira.

Um blumenauense que veste kimono.

Com muito orgulho.

Instituto lotou para reverenciar Kauan. Foto: Charles Gaulke

“Quem quer dá um jeito. Quem não quer inventa uma desculpa”.

Kauan Bruno dos Santos Ribeiro.

Kauan no lugar mais alto do pódio no Chile. Foto: Arquivo pessoal
Kauan vibrando com um golpe. Foto: Arquivo pessoal

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é comentarista do Programa Alexandre José, na Rádio Clube FM 89.1, nas segundas, quartas e quintas-feiras, às 7h40. Também atua como apresentador, repórter e produtor no quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV RecordTV Blumenau. Além de boleiro na Patota 5ª Tentativa.  

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