A fiscalização eletrônica de velocidade em cerca de 150 faixas de tráfego distribuídas em 50 pontos pela cidade ainda nem começou e já está dando o que falar em Blumenau. Quem furar o sinal vermelho (infração gravíssima) ou parar o veículo em cima da faixa de pedestres na mudança de sinal luminoso (infração média) também será autuado. Os equipamentos já estão na fase de testes e apenas registram as infrações sem notificação ao motorista, mas passada a fase experimental daí as autuações começam pra valer. Estima-se que em no máximo 180 dias todos os equipamentos já estejam em pleno funcionamento.
Velocidade excessiva
A grandeza velocidade quase nunca sozinha e está presente como um somatório de variáveis em diferentes tipos de acidentes, agora tecnicamente chamados de sinistros de trânsito. Não é só a velocidade acima da permitida que fere, sequela e mata.
Os engavetamentos são exemplos de velocidade excessiva, quando mesmo abaixo do limite permitido na via, se utilizada de forma inadequada pelos motoristas causa colisões traseiras como um efeito dominó.
Para um idoso que já tem comorbidades basta uma encostadinha do veículo ao seu corpo a cerca de 20km/h para que haja morte provocada por uma queda que politraumatiza um corpo já frágil.
Excesso de velocidade
O excesso de velocidade é uma das principais causas de acidentes de modo que quanto maior a velocidade maior o risco potencial de colisões com feridos, sequelados e mortos. Mas, para grande parte dos motoristas não interessa.
O excesso de velocidade também está presente nas colisões em cruzamentos, nos atropelamentos em cima da faixa, na distração dos motoristas. Mas, para muitos motoristas isso não é suficiente para mudar o modo de conduzir um veículo.
Fiscalização de velocidade é um assunto chato para quem não gosta de ser fiscalizado e representa só a ponta do iceberg. Mas, a verdade é que quando o pé no freio não funciona alguém se machuca antes que comece a doer no bolso do infrator.
Risco assumido
Quando o sinal verde abre para o motorista e outro corta a sua frente porque furou o sinal vermelho o sujeito fica furioso, reclama da falta de fiscalização e de punição. Mas, quando está com pressa esse mesmo motorista que reclama não hesita em sair no sinal vermelho com a justificativa de que “não dá nada” porque o sinal já vai abrir.
Agora terá sensores nos semáforos que flagrarão as infrações gravíssimas desse tipo e disponibilizarão a imagem, inclusive daqueles que não conseguem parar atrás da linha de retenção e cometem a infração média por parar o veículo em cima da faixa na mudança de sinal luminoso.
Aliás, é um tipo de infração que irrita muitos motoristas quando eles estão no papel de pedestres e tiram-lhe a vez de passagem para a travessia sobre a faixa.
O fato é que muitas vidas foram perdidas porque alguém acelerou demais acreditando na habilidade que tem ou que pensa tem, depositando todas as fichas na tecnologia do veículo e na sua capacidade de parar em poucos segundos após o acionamento do freio.
Muitos dos que são contra a fiscalização de velocidade já reclamaram da pista de corrida que virou a rua Bahia, a 7 de Setembro, a Amazonas, a rua São Paulo, dentre outras em que já se registrou mortes em que a grandeza velocidade estava presente.
O que se vê é que as opiniões a respeito dos equipamentos que fiscalizam a velocidade dependem de interesses e comportamentos distintos. O infrator que acelera demais, que fura sinal vermelho e tira a vez do pedestre sobre a faixa para uma travessia segura será contra, dirá que se sente “assaltado” pelo que chamam de máquinas de moer o saldo em sua carteira.
Não raro os termos assalto, crime, extorsão e roubo saem da boca dos que receberam algum tipo de autuação por excesso de velocidade ou que dão como certa pelo modo como dirigem os seus veículos.
Há quem diga que tais equipamentos só servem para fazer o motorista passar com o carro quase parando e depois voltar a acelerar retomando o comportamento de risco. Qual é a parte em que controladores e fiscalizadores de velocidade não educam e só condicionam o comportamento que ficou difícil de entender? Por acaso também não é isso que fazem os motoristas diante de uma faixa elevada?
Polêmicas não são à parte porque sempre existirão diante de qualquer tipo de fiscalização, sobretudo de velocidade. A volta da fiscalização demorou até demais independente se houve impedimentos de ordem jurídica ou leniência, excesso de vista grossa para os riscos a que todos estão expostos quando um motorista usa a velocidade de modo errado para dirigir.
Frases do tipo “o melhor fiscalizador de velocidade está ao alcance do seu pé e chama-se pedal de freio” ou a conclusão de que “o motorista brasileiro quer fiscalizar o outro, mas não gosta de ser fiscalizado” viraram clichês sem nenhum efeito prático para a segurança das pessoas em seus deslocamentos.
Digo e repito: não se vive em sociedade sem direitos e deveres, sem cumprir as regras e leis a que todos estamos expostos. Por isso é que no trânsito se não vai pelo amor vai pela dor: ou respeita a velocidade da via ou vai ser autuado e ainda receber uma “fotinha” da infração para refrescar a memória. É assim que funciona.
No dia em que os gestores do trânsito compreenderem que a fiscalização é apenas um dos pilares das ações para o trânsito seguro, que precisa ser feita mesmo sendo medida impopular e que não substituirá jamais os programas permanentes de educação para o trânsito aí sim, pararão de comemorar voo de galinha.
No dia em que os motoristas entenderem os perigos da velocidade para si e para os outros, e que basta cumprirem as leis de trânsito que não serão autuados cada um estará mais ciente, dirigirá com mais cuidado.
Enquanto não cair a ficha de que é gente matando gente, de que cada um pode contribuir com a sua parte para um trânsito seguro qualquer tentativa de chamar à atenção para a gravidade do problema será motivo de discórdia e discursos inflamados que nada resolvem na prática.
