InícioBlumenauMárcia Pontes: Ainda existe muito desrespeito com a mulher no trânsito

Márcia Pontes: Ainda existe muito desrespeito com a mulher no trânsito

Às vésperas de mais um Dia Internacional da Mulher e das inúmeras felicitações em todo tipo de mídia cumprimentando e valorizando a mulher os fatos cotidianos ainda mostram que as mulheres continuam sendo desrespeitadas no trânsito. A ocasião perfeita para trazer à tona alguns fatos históricos sobre mulheres que revolucionaram o mundo automotivo desde os idos dos anos 1800, refrescar a memória de alguns e trazer informação a outros. 

Há quem diga que não tem nada a ver, mas é só observar mulheres e homens estacionando. Quando é uma mulher sempre tem um homem “orientando” com aquele insuportável “vira para a direita”, agora “vira para a esquerda”, “gira todo o volante, dona”. Os comandos sempre vêm com o sinal de braço, uma mãozinha mandando ir mais para trás, mais para trás, mais para trás, vem que falta um monte ainda!  

Não raro o homem que “orienta” a mulher a estacionar termina a sessão com algum tipo de riso ou careta. Não importa que seja uma instrutora de trânsito manobrando com toda cautela e acerto. 

Mas, quando é outro homem estacionando não se vê a mesma “disposição para ajudar”, tampouco os movimentos de mãos e braços. 

A menos que o cara tenha muita dificuldade para estacionar eles não fazem a mesma coisa com outro marmanjo. 

As discussões no trânsito nunca deveriam existir, mas quando tem uma mulher envolvida parece que a boca do homem fica maior. Não costumam tratar outro homem da mesma forma e com a mesma folga. 

Só podia ser mulher

Expressões preconceituosas como “só podia ser mulher”, “mulher não sabe estacionar” e a pior delas: “mulher ao volante, perigo constante” jogam a última pá de cal em cima do respeito por parte de alguns portadores de cromossomo XY em relação às mulheres. Logo eles que são os que mais disparam nas estatísticas de acidentalidade no trânsito e costumam ter comportamentos mais agressivos!

Pois então, vamos a alguns fatos históricos que relacionam a representatividade da mulher ao volante e à própria tecnologia embarcada. 

Para começar, a alemã Bertha Benz passou a ser considerada desde 1888 a “mãe do automóvel”, a primeira piloto de testes da história, a primeira pessoa no mundo a fazer uma viagem de longa distância dirigindo. Ah, ela também inventou as pastilhas de freio. 

Depois de pegar o carro do marido Karl Benz enquanto ele dormia e dirigir 104 km com os dois filhos foram feitas mudanças no motor wagen apresentado ao mundo na grande Feira de Paris. Pelo caminho ela desintupiu o filtro de combustível com um grampo de cabelo e com o elástico da cinta liga isolou os fios do cabo de velas. 

Mais tarde uma menina de 9 anos chamada Mercedes inspirou a criação da Mercedes Benz. 

O que dizer então da Duquesa Anne, apaixonada por carros que fundou o Rali Paris-Roma e competiu até os 80 anos!

No Brasil, em 1932, Maria José Pereira Barbosa Lima juntamente com Rosa Helena Schorling foram as primeiras mulheres habilitadas no país. Ambas eram do Espírito Santo e Schorling foi a primeira mulher a habilitar-se para conduzir motos. Um feito e tanto para a época em um tempo que as mulheres ainda tinham de pedir autorização aos maridos para fazer diversas coisas. 

A primeira piloto de Fórmula 1 foi a italiana Maria Teresa de Filippis que conduzia nada menos que um Maserati. Ficou furiosa com o preconceito do diretor de provas do Grande Prêmio da França, em 1958, quando ele a proibiu de competir dizendo que o único capacete que ela deveria usar era o da cabeleireira. 

O que dizer então de Mary Anderson que inventou o parabrisas ou de Florence Lawrence que inventou a seta, a luz de freio e o limpador elétrico de parabrisas? Sabia dessa?

Margareth Wilcox era engenheira e inventou o aquecedor interno do carro como se conhece até hoje enquanto June McCarroll inventou as linhas brancas no asfalto. Ela percebeu que os motoristas invadiam a contramão e provocavam colisões frontais com frequência. A sua invenção para a segurança no trânsito tornou-se lei na Califórnia em 1924 e a partir daí ganharam o mundo e os manuais de sinalização de trânsito. 

Alice Hamsey viajou com mais 3 amigas por 41 dias, dirigiu mais de 6 mil km da Califórnia a San Francisco e trocou 11 pneus pelo caminho. 

Ah, e a cada vez que olhar para o parabrisas, janelas e os espelhos retrovisores do seu carro lembre-se que eles existem porque Katharine Blodget inventou o vidro sem reflexo em 1926. 

A vovó Heidi Hetzer dirigiu dando a volta ao mundo de carro aos 76 anos dirigindo um clássico modelo Hudson Greiter Heidt. Foi piloto de corrida e de rali e no meio dessa viagem foi diagnosticada e operada de um câncer. Se recuperou e voltou para a Alemanha dirigindo. 

No dia a dia são muitas as mulheres que assumem o volante para todas as finalidades e dirigem tão bem ou melhor que as precursoras famosas e até mais do que certos homens.

O motorista faz a segurança

A questão aqui não é sobre quem dirige melhor, se o homem ou a mulher, mesmo porque é o motorista que faz o carro e a segurança. 

Trata-se de respeito com as mulheres no trânsito para tirar de cena o preconceito, as piadinhas, os risinhos de canto de boca quando se fica fitando uma mulher estacionar e solta-se ao som de descarga aquele “mulher não sabe estacionar” ou o famoso “mulher ao volante, perigo constante”. 

Parafraseando o escritor mineiro Luiz Ruffato: perigo mesmo são a ignorância e a burrice. A ignorância é falta de conhecimento e para isso tem jeito. Mas, para a burrice de quem tem conhecimento, mas alimenta o preconceito de forma geral, o mais difícil é a incapacidade de compreender a realidade por teimosia ou arrogância. 

Mulher ao volante, direção segura e elegante! 

Mulher ao volante, poder constante! De suportar todo o estresse natural do trânsito e as demonstrações de preconceito e falta de respeito no dia a dia. 

Dirija como uma mulher e vai ver como diminui a estatística de mortes e sequelas graves!

Alguém aceita uma carona aí? 

Feliz Dia Internacional da Mulher para todas e todos que foram gerados por uma de nós. 

Feliz Dia das MÃEtoristas!

Bora valorizar e respeitar mais as mulheres no trânsito, gurizada!  

Márcia Pontes/Colunista Portal Alexandre José

Márcia Pontes é escritora, colunista e digital influencer no segmento de formação de condutores, com três livros publicados. Graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul, especialista em Direito de Trânsito pela Escola Superior Verbo Jurídico, especialista em Planejamento e Gestão do Trânsito pela Unicesumar. Consultora em projetos de segurança no trânsito e professora de condutas preventivas no trânsito. Vencedora do Prêmio Denatran 2013 na categoria Cidadania e vencedora do Prêmio Fenabrave 2016 em duas categorias.

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