Diferente do futebol onde um adversário inferior pode armar uma retranca, dar um chute a gol, a bola entrar, e conseguir a vitória, no vôlei não existe zebra (assim como em outras modalidades coletivas).
O clube de maior investimento, se jogar centrado e motivado, vai vencer a maioria das partidas.
Diante da tradição e da força econômica dos oponentes, a Apan vem enfrentando isso desde o acesso em 2019.
Com propriedade, diga-se de passagem.

Na última quinta-feira (30), no Galegão, encarou o melhor time da Superliga.
O Cruzeiro confirmou seu favoritismo ao fazer 3 x 1 (19/25- 25/17- 22/25- 12/25).
Terça-feira (4), 21h, em Contagem MG, tem o segundo confronto.
A Apan teve a infelicidade de cruzar com o campeão mundial depois de ter feito a 8ª melhor campanha entre 12 participantes – Brasília DF e Rede Cuca CE caíram.
Para suplantar um adversário desse peso, é preciso jogar sempre no limite.
Ser perfeito.

O raciocínio também se aplica ao basquete feminino.
Que nos últimos anos é quem tem apresentado os melhores resultados das equipes de Blumenau em competições nacionais.
O BFB já foi vice-campeão da LBF em 2021.
Perdeu a final para o Ituano SP.
Nesta sexta-feira (31), no Galegão, conseguiu diante de Campinas SP, a primeira vitória: 88 x 61.
após três tropeços seguidos.
Para Santo André SP, Araraquara SP e Catanduva SP.

O mesmo cabe ao handebol feminino que enquanto teve condições, bateu de frente com a poderosa Metodista de São Bernardo do Campo SP – foi vice-campeã cinco anos seguidos (2006, 2007, 2008, 2009, 2010).
No ápice da sua trajetória, conquistou o tricampeonato da Copa Brasil (2007, 2008, 2010).
Desde então vem chegando entre os quatro.
Porém, invariavelmente, convive com a incerteza da participação no segundo semestre do mais prestigiado evento da modalidade.

O futsal é quem mais tem sofrido com o peso da concorrência.
Só não foi rebaixado ultimamente porque comprou a franquia (pagou R$ 620 mil em 4 anos).
O que consequentemente evita o descenso.
Nesta sexta (31), no Sesi, empatou com São Lourenço SC, em 3 x 3.
Em sua estreia na Liga perdeu em Carlos Barbosa por 7 x 2.

As probabilidades de acontecer esse desgaste com o Bluvolei são grandes.
Pois na Série A tudo muda de figura.
Em todos os sentidos.
As dificuldades e as responsabilidades aumentam.

O clube ainda está saboreando a façanha.
Digerindo a perda do título (normal) para Osasco na final.
O principal título foi subir.
Há quatro anos, a Apan também foi derrotada pelo Botafogo no Rio de Janeiro.
Nos dois casos, não apagou e não apaga, o brilho do trabalho realizado.

De todo modo, mesmo escondendo o jogo sobre quanto gastou, e de quanto vai precisar investir, a diretoria projeta um acréscimo no orçamento de pelo menos cinco vezes.
Para se manter na primeira divisão.
Algo em torno de R$ 1 milhão de reais.
Em uma competição que dura cinco meses até o fim da fase de classificação (outubro a março).

A diretoria deve se se mirar no exemplo de Brusque.
Subiu – derrotou o Bluvolei dentro do Galegão na última Superliga B.
E já desceu – fez apenas 1 ponto (porque levou um jogo para o tie-break) em 21 partidas.
21 derrotas!
Nesta sexta-feira se despede jogando em Barueri SP.
A meta era chegar aos playoffs.

O rebaixamento aconteceu por algumas razões.
O clube demorou para decidir se disputaria ou não a Superliga.
Com isso se reforçou tarde demais.
Atletas receberam propostas e saíram.
Uma canadense e uma norte-americana chegaram.
A renovação passou de 50%.
Três meninas se lesionaram.
Na estreia contra o Minas, o técnico Maurício Thomas (que ficou), contou com apenas 9 relacionadas.
Dois patrocinadores (Havan e FIP) desembarcaram no meio da competição.
O orçamento era de R$ 1 milhão.

Existem semelhanças.
O Bluvolei dificilmente vai conseguir manter o mesmo elenco.
Algumas jogadoras se destacaram.
Se valorizaram.
Por mais que tenham se envolvido afetivamente com o projeto (isso ficou evidente na decisão contra Taubaté SP), são profissionais.

Querem ganhar mais – o teto é R$ 3.500,00 + bolsa na faculdade + pagamento de aluguel em apartamento.
Sonham em jogar em um time de maior expressão.
Todas, talvez as meninas da base são exceções, têm agentes.
Sim, não é só no futebol que existe esse processo.
Estão “livres” no mercado.

O Bluvolei teve de fazer uma grande reformulação para finalmente subir após 33 anos.
Só quatro atletas ficaram.
10 foram contratadas.
O treinador Vinicius Gamino (Alegrete) pediu para sair.
Recebeu convite para ser coordenador técnico no USPM de Lima no Peru.

O primeiro grande acerto foi trazer Rogério Portela para seu lugar.
Um cara equilibrado e qualificado, conhecedor profundo da Série B (subiu com o Brasília) e e do vôlei catarinense (Rio do Sul, Brusque, Itajaí).
O segundo ponto positivo foi o retorno de Edna – esposa de Portela – que começou no Bluvolei.

Edna (39 anos).
Wime (35).
Pauline (32).
Letícia (25).
Julia (24).
Foram essenciais no equilíbrio com a juventude.

A média de idade saltou de 22 para 24 anos.
Vittoria, por exemplo, que veio de Jaraguá do Sul, parecia uma veterana no terceiro e definitivo jogo com Taubaté SP.
Tem apenas 16 anos.
Esse tipo de comportamento (dela e de outras jovens atletas) em um jogo decisivo e tenso, chama a atenção.

O Bluvolei precisou “forçadamente” construir um time mais cascudo para chegar à elite.
Sacrificou a base sem perder a identidade.
O que vai ser desse time na Superliga, por ora, não dá para saber.
Tudo necessariamente vai passar por mais apoio e mais dinheiro.
Na elite, a prateleira é outra.
Emerson Luis é jornalista. Se formou no IBES/Sociesc em 2009. Trabalha com comunicação esportiva desde 1990 quando começou sua carreira no rádio de Blumenau. Atualmente é comentarista esportivo do Programa Alexandre José na Rádio Clube FM 89.1. Repórter e apresentador de esportes do programa Balanço Geral da NDTV/Record TV. E boleiro da Patota 5ª Tentativa.
