A seleção fez uma nova geração torcer, se apaixonar, se emocionar, sonhar com o título.
Soube ao chegar em casa que minha filha de 9 anos chorou copiosamente.
Entrou em pânico.
A ponto de minha mulher ter de acalmá-la.
Eu, por outro lado, me irritei com a irregular atuação.
E lógico com a eliminação.
Especialmente da maneira que aconteceu.

Até então estava otimista.
Como todo mundo com quem conversei nos últimos dias.
Havia poucas e raríssimas exceções.
Afinal, enfrentaríamos a “inexpressiva” Croácia – comparada com seleções de tradição.
Croácia que não convenceu na primeira fase.
Ficou atrás de Marrocos.

Mas sempre fui claro nesse espaço, na Rádio Clube FM no Programa Alexandre José e no quadro de esportes do Balanço Geral da NTDV, que o Brasil ainda não havia passado por um grande teste.
Ou enfrentado um adversário de camisa pesada.
Ignorei a Croácia por não considerá-la uma potência mundial – apesar de ser a atual vice-campeã.
Já projetava o duelo contra a Argentina.
Que empatou com a Holanda em 2 x 2 no tempo normal.
0 x 0 na prorrogação.
E venceu nos pênaltis por 4 x 3.

Pois bastou encarar uma seleção organizada e disciplinada e com atletas que sabem o que fazer com a bola, para o Brasil sofrer.
Só para efeito de curiosidade porque muitas vezes (a Espanha que o diga) essa estatística é inócua, os croatas trocaram 692 passes – 51% de posse – contra os 684 passes dos brasileiros – 49% de posse.
Nosso primeiro tempo foi dureza, sofrível.
Por conta das modificações na etapa final (Antony no lugar de Raphinha, Rodrygo na vaga de Vinícius Júnior, que mesmo não estando no melhor dia, eu não tiraria, e Pedro no posto de Richarlison), Tite teve parcela de contribuição no crescimento do time.
O Brasil agrediu mais, teve chances para marcar.

Veio a prorrogação.
O buraco no meio-campo permaneceu.
Era preenchido com maestria por Luka Modrić no alto dos seus 37 anos.
Mesmo com o sistema tático confuso, apareceu a individualidade (de novo) e o golaço de Neymar.
No intervalo, com a equipe aliviada e confiante, Tite resolveu mexer.
Sacou Éder Militão, um dos melhores em campo, para a entrada de Alex Sandro, um lateral que vinha se recuperando de uma lesão no quadril.
Também colocou Fred para fazer a função de Paquetá – mesmo tendo características bem diferentes.
Quando tinha no banco o experiente Fabinho, que poderia ter vindo já no tempo normal. Ou Bruno Guimarães.
Foi o pior desempenho de Casemiro no Mundial.
Afinal, cansou, ficou sobrecarregado.

O Brasil sentou no resultado.
Se desligou.
Se aloprou na jogada do empate.
Isso porque Tite prega muito pela organização em campo.
Fred se apresentou no ataque precipitadamente quando deveria estar protegendo o sistema defensivo.
Proporcionou o contragolpe.
Com o jogo na mão.
O time estava todo bagunçado naquele momento – Tite discordou quando questionado na entrevista coletiva.
Faltando 4 minutos para garantir a vaga na semifinal.
Bastava controlar a partida, tocar a bola, fazer cera, ter malandragem.
Básico.
Inadmissível.

Nos pênaltis não deu para entender porque o jogador mais jovem, de 21 anos, (mesmo com o status que tem no Real Madrid) fez a primeira cobrança.
Neymar poderia ter aberto a série.
Ninguém vai saber se acertaria, é verdade.
Porém, nessa hora, o craque do time tem de chamar a responsabilidade.
Por ser o mais qualificado.
O batedor oficial.
Tite justificou na coletiva que Neymar faria a quinta batida.
Não consigo digerir a estratégia.
Lembrando que Messi cobrou o primeiro pênalti da Argentina nesta sexta-feira (9).

Casemiro é outro que poderia inaugurar.
Cobrou bem.
Assim como Pedro.
Tiraria um peso enorme dos demais.
A pressão estava toda do nosso lado.
Rodrygo foi para a bola com pressa.
Sem confiança no olhar.
O atacante bateu muito mal.
Marquinhos acertou a trave.
A Croácia mostrou frieza nos quatro arremates.

Tite assumiu a seleção em junho de 2016.
Foram 81 jogos.
60 vitórias.
15 empates.
6 derrotas.
80% de aproveitamento.
Onde o principal trunfo é o título da Copa América de 2019.
A seleção sobrou nas Eliminatórias.
E daí?

Tite, sua comissão técnica, os jogadores e dirigentes falharam quando mais se precisou.
O Brasil criou uma ilusão de ótica em muita gente.
Especialmente em quem não está acostumado com frustrações.

Emerson Luis é jornalista. Se formou no IBES/Sociesc em 2009. Trabalha com comunicação esportiva desde 1990 quando começou sua carreira no rádio de Blumenau. Atualmente é comentarista esportivo do Programa Alexandre José na Rádio Clube FM. E repórter e apresentador de esportes do programa Balanço Geral da NDTV/Record TV.
