Essa pergunta surgiu durante a semana no Programa Alexandre José na Rádio Clube FM.
Me foi feita fora do ar pelo repórter Maurício Cattani, antes do meu comentário esportivo na 89,1.
Foi muito rápido (o intervalo comercial estava terminando).
E a primeira coisa que me veio à cabeça foi o nascimento dos meus filhos.
Que chegaram em 2013 e 2018.

Minha mulher é de São Paulo.
Está na cidade desde 2007 (um ano depois ficamos juntos).
A Roberta é só mais um exemplo da grande miscigenação em que Blumenau se transformou.
Não foi por acaso que passamos de 400 mil habitantes.
A propósito, ela é “louca” por esse lugar.

Nesses mais de 40 anos de relação com Blumenau vivi momentos incríveis.
Especialmente na infância.
Tudo passa naturalmente pela história dos meus pais.
Sobretudo pelo seu Malinho.

Um blumenauense nato.
Que cresceu na rua Londrina (transversal da Gustavo Budag).
Jogou no Bangu.
Tradicional time amador do bairro da Velha.

Foi sócio do Vasto Verde.
Frequentou o bar Bola Branca (a velha guarda vai lembrar).
Vivia com um violão dentro do carro.
Era o “homem do sapato branco”.
De hábitos noturnos.
Tanto é que morreu cedo.
Em setembro de 1993.
Com apenas 51 anos.
Herdei o gosto por futebol, por música e pelo sereno.

Minha mãe é de Rio do Sul.
Começou a trabalhar cedo em Blumenau.
Literalmente.
De madrugada.
Quando ia de bicicleta do morro da Lebon Régis (Ponta Aguda) até a CIA Hering (Bom Retiro).
A grande responsável por nos manter unidos.
Exemplo de retidão.

Denilson, Jeferson e eu somos de Joaçaba.
Nascemos no Hospital Santa Terezinha por causa de uma transferência de emprego do pai.
Que logo se repetiu.
Chegamos em Blumenau em 1976.
Pulamos de galho em galho (por causa do aluguel).
Garcia, Velha, Água Verde.
Por fim, moramos por um tempo com meus tios Valmor e Marli.
Até a casa nº 173 na mesma rua Alferes Von Seckendorf ser liberada.
Lá vivemos momentos intensos.

Jogamos muita bola no campinho de barro da rua Dr. Antônio Haffner.
Que não existe mais.
Assim como tantos que foram substituídos por casas e prédios.
As lembranças dos torneios internos no Vasto Verde, aos domingos, também são memoráveis.

Estudei do 1º ao 5º ano no Lothar Krieck.
Foi lá na quadra de cimento que pratiquei várias modalidades nas aulas de educação física comandadas pelo exigente e competente professor Ariberto Vieira (in memoriam).
Futebol de salão, vôlei, handebol, basquete, atletismo…
Que foram substituídas (mesmo em escolas particulares) por pega-pega energia, pega-pega ladrão, queimada, nunca quatro…

Comecei a enxergar uma cidade de pluralidades sociais a partir de mais uma mudança de endereço.
Desta vez para o Fidélis.
Era o fim do aluguel.
Contudo, a ruptura do sonho de ser jogador.
Tudo porque na escola Pedro I não existia 5ª série de manhã.

À tarde treinava futebol de salão na AABB com o professor Manoel Dalpasquale.
Maneca, que é considerado um dos grandes formadores de atletas do país, iniciou a carreira de técnico em 1983, com 21 anos de idade.
O trabalho com o time adulto começava antes.
Lembro de alguns nomes daquela safra que teve Ivan, Xande, James, Altair…
Queria trilhar o caminho deles.
Não deu.

Fui obrigado a desistir.
Nunca mais fui o mesmo moleque.
Continuei estudando.
Ao menos até a 8ª série.
Larguei a escola e comecei a trabalhar em uma lanchonete no centro.
No ápice de público da Oktoberfest.
A comunicação entrou por acaso em 1990.
Na rádio Unisul (CBN).

O resto são lições e muito suor.
Uma luta diária para construir uma imagem, digamos, de respeito e independência.
Afinal, Blumenau não gosta de tadinhos.
Vencer em uma comunidade desconfiada não é tarefa das mais fáceis.
Esse caldeirão étnico tornou o julgamento menos pesado.
Mais consentimentos.
Menos discordâncias.

Mas não posso ser injusto.
Muito menos ingrato.
A foto abaixo é a materialização da felicidade.

O que restou da minha família ainda está em Blumenau.
Além do meu pai, perdi meu irmão mais velho Denilson e meu tio Ilson, com quem tinha uma ligação muito forte.
Foram três porradas que jamais vão cicatrizar.

A vida é boa porque oferece compensações.
Como levar meus filhos para visitar a vó e o tio.
Tomar umas e fazer um churras, de vez em quando, com o mano tricolor.

Bem como a convivência com meu sobrinho Anderson e sua parceira Rúbia.

Meus melhores amigos estão em Blumenau.

As festas mais animadas fizemos juntos.

Assim como os encontros que são impagáveis.

Os parentes mais próximos são daqui.
A reaproximação com a família Zilinski tem sido sensacional.

O que dizer da bolinha semanal na patota Quinta Tentativa.
Pensa em uma turma boa de copo e de resenha.

O que sou.
O que tenho.
Devo a Blumenau.
As vitórias.
As derrotas.
A felicidade.
A tristeza.
O amor.
A dor.
172 anos de emoções e contrastes.

