InícioMárcia PontesTrânsito: os motoristas, a velocidade e as ilhas de segurança, por Márcia Pontes

Trânsito: os motoristas, a velocidade e as ilhas de segurança, por Márcia Pontes

Imagine que os pedestres se deslocassem como os motoristas e, em vez de caminharem calculando a distância e a velocidade de suas passadas, corressem. A possibilidade de esbarrar em outros pedestres, em hastes metálicas que sustentam as placas, lixeiras e bancos nas calçadas seria enorme! Imagine agora um motorista que dirija com atenção, que enxergue as placas, a sinalização de solo e que respeite a velocidade da via.

Certamente passaria sem dificuldades pelas ilhas de segurança sem esbarrar. Mas, é o que não vem acontecendo e as colisões contra esses dispositivos de proteção aos pedestres têm sido cada vez mais recorrentes. A culpa é da ilha de concreto? A coluna analisa. 

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O nome varia para o mesmo dispositivo: ilhas de segurança, ilhas centrais, ilhas de pedestres ou ilhas de refúgio. Sua principal finalidade é expor menos os pedestres aos veículos motorizados proporcionando lugares mais seguros às pessoas durante a travessia da via. Cria o equivalente a duas vias estreitas de sentido único que favorece a visibilidade e um refúgio para os pedestres aguardarem a vez de atravessar. 

Tamanha a importância esses dispositivos de segurança são citados como estratégias no Manual de Segurança Viária para Gestores e Profissionais da Área publicadopela Organização Panamericana da Saúde em parceria com a Organização Mundial da Saúde, FIA Foundation, Global Road Safety e Banco Mundial (clique aqui para baixar).

No manual são relatadas experiências de prevenção e controle de lesões em pedestres em diferentes países a partir das ilhas de segurança, mas por aqui as coisas parecem não funcionar. 

Refúgio para pedestres

As ilhas são obstáculos físicos, geralmente construídos em armações pré-moldadas de concreto e colocados na pista de rolamento para dar mais segurança aos pedestres durante a travessia. 

Entre as duas extremidades da ilha de segurança éreservada uma área de refúgio para os pedestres. Aqueles com mobilidade reduzida, deficientes visuais, cadeirantes e mães com carrinho de bebê são os que mais se beneficiam, pois podem atravessar uma faixa de tráfego, aguardar no refúgio até os veículos passem e continuar a travessia em segurança. Sempre onde tem uma ilha de segurança há uma faixa de pedestres. 

Desrespeito x velocidade

As colisões contra ilhas de segurança ocorrem geralmente à noite ou madrugada, muitas aos finais de semana quando os motoristas saem da balada. Nesses casos existe a falsa ilusão de que naquele horário não têm mais veículos ou pessoas circulando nas vias. O motorista relaxa mais e pisa mais fundo encontrando uma ilha de segurança pelo caminho. 

Há casos em que as colisões são à luz do dia ou cair da tarde. A pressa justifica?

Se é sorte que pedestres não tenham sido atropelados e até mortos não se sabe, mas é fato que a possibilidade de uma pessoa atravessar naquele local no mesmo momento que o condutor é muito alta. 

A grandeza velocidade costuma estar associada às colisões em ilhas de segurança, seja o excesso de velocidade ou a velocidade excessiva. Excesso de velocidade é quando o motorista acelera para além do limite de velocidade permitida pela placa. 

A velocidade excessiva ou inadequada é quando mesmo trafegando abaixo do permitido pela placa a velocidade é inadequada para o momento diante das condições de tráfego. Isso explica os engavetamentos e as colisões contra ilhas de segurança. 

Não respeita a faixa ou a ilha?

Se no local há uma faixa de pedestres que pune com infração gravíssima, 7 pontos, R$ 293,47 de multa quem não dá a preferência ao pedestre durante a travessia, e se naquele mesmo local há uma estrutura de concreto formando uma área de refúgio para as pessoas que constantemente é derrubada pelos motoristas, o que eles desrespeitam primeiro? A faixa ou a ilha?

Obstáculos na via?

Para muitos motoristas as ilhas de segurança acompanhadas de faixas de pedestres são obstáculos desnecessários colocados no meio da via para atrapalhar a vida de quem dirige. Como não se colocam no lugar dos pedestres que são dá para dizer que o maior risco para quem tem só tem um martelo é ver tudo como se fosse um prego. 

Para os pedestres os maiores obstáculos nas vias são os buracos, as calçadas mal conservadas e os motoristas apressados. 

Ilhas de segurança são tão importantes que é infração gravíssima x 3 e multa no valor de R$ 880,41 caso um condutor transite com o veículo sobre ilhas e refúgios como alguns motociclistas fazem. 

Risco ou proteção?

Essa é uma pergunta que só os técnicos que fazem estudos específicos para a colocação de dispositivos de segurança nas vias podem responder. 

É a partir dos registros de ocorrências de colisões, da recorrência após substituições desses dispositivos, do tipo de via, da composição do tráfego e de outros critérios é que se poderá concluir pela manutenção ou remoção das ilhas de segurança em determinados locais. 

É fato que as ilhas de segurança estão instaladas de acordo com manuais técnicos e resoluções do Contran, bem sinalizadas com placas de advertência e faixas de pedestres. 

Portanto, dizer que não viu a ilha de segurança à frente não cola. Inclusive por meio das placas caídas nos locais de colisão e pelas imagens de câmeras de segurança é possível identificar o proprietário do veículo e cobrar dele o estrago inclusive judicialmente. 

Cair com o veículo em um buraco sem sinalização e cobrar os danos da prefeitura é uma coisa. Destruir uma ilha de segurança por conta de uma colisão é outra. 

Ilhas de segurança têm faixas de pedestres. Numa colisão ainda que se retire do cenário a ilha central restará o desrespeito à preferência do pedestre na faixa.

Muitos motoristas podem morrer negando, mas aliviando o pé, respeitando a faixa de pedestres e parando de ver as pessoas e os dispositivos de segurança como obstáculos não haverá danos. Sejam materiais, patrimoniais ou à vida. 

O melhor redutor de velocidade está ao alcance dos seus pés e chama-se pedal de freio. Aprenda a usá-lo. 

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Texto escrito por MÁRCIA PONTES

Márcia Pontes é escritora, colunista e digital influencer no segmento de formação de condutores, com três livros publicados. Graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul, especialista em Direito de Trânsito pela Escola Superior Verbo Jurídico, especialista em Planejamento e Gestão do Trânsito pela Unicesumar. Consultora em projetos de segurança no trânsito e professora de condutas preventivas no trânsito. Vencedora do Prêmio Denatran 2013 na categoria Cidadania e vencedora do Prêmio Fenabrave 2016 em duas categorias.

 

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