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Trânsito: celular acoplado na frente do capacete pode ser uma gambiarra letal, por Márcia Pontes

Como se não bastasse a situação de vulnerabilidade dos motociclistas, que é maior do que a dos condutores de veículos de quatro rodas por conta de um conjunto de fatores – dentre eles comportamento e estrutura da moto -, o uso de celular enquanto conduz a moto potencializa em muito o risco de acidentes.

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Pelo jeito o hábito de usar o celular preso no guidão da moto é coisa antiga. Muitos também usavam o celular com fones de ouvido com e sem fio. Agora o aparelho fica “encaixado” dentro do capacete.

O assunto dominou o grupo de especialistas em trânsito que reúne profissionais de todo o país e trouxe alguns dados relevantes. O motociclista que usa o celular preso ao guidão, anda a uma velocidade de 60k m/h e olha a tela do celular por 5 segundos, está percorrendo 83 metros às cegas. Se a velocidade for de 100 km/h, a distância chega a 139 metros percorridos às cegas.

Não é porque o celular fica “embutido” dentro do capacete que esse risco diminui ou deixa de existir porque não se olha para a tela do smartphone. A questão é a distração que isso provoca.

Motoboys

Motoboys vivem correndo contra o tempo em suas entregas. Muitas vezes o pedido atrasa, o endereço está errado e é preciso se comunicar com o estabelecimento. Nem todo entregador faz a coisa certa e para em local permitido para fazer uma chamada ou atender quando alguém do estabelecimento liga.

O fator cognitivo, a atenção, o foco, a concentração ficam extremamente comprometidos neste momento. É questão de segundos para errar uma manobra ou mesmo um avanço de sinal.

Suporte para capacete

Celular dentro do capacete passou a ser o perigo da vez. Alguns ajustam à frente do nariz por dentro do capacete de modo que o aparelho fique bem pressionado, Outros adaptam o suporte para celular pelo lado de fora bem no meio da viseira.

Não é só em caso de queda ou colisão que o risco aumenta; ao longo do percurso também, porque o aparelho diminui o campo de visão do motociclista. Algum elemento na via pode passar batido e provocar a batida ou o desequilíbrio na condução da moto.

O motociclista já conduz a moto com a atenção dividida entre o trânsito, a conversa pelo celular, em prestar atenção nas orientações que está recebendo pelo Smartphone e é facilmente influenciado pelo tom da conversa que pode ser uma chamada de atenção que vai irritá-lo e interferir na condução.

Gambiarra letal

É fato que se olharmos pelo ângulo da segurança no trânsito, tem-se um distrator a mais, uma gambiarra que é feita com o propósito de ajudar, mas que atrapalha e coloca em risco a vida do motociclista.

A questão é fazer essa parcela de condutores com comportamentos e características bem específicas compreenderem o risco a que se expõem. A gambiarra que facilita por um lado (eles dizem que facilita) pode ser letal.

Sociedade dos inválidos

Historicamente são os motociclistas que mais entram com pedidos de indenização junto ao Seguro DPVAT, e dentre os acidentes de trabalho são os que mais registram afastamentos. Nas contas de qualquer pasta da Saúde dos municípios, são os motociclistas que mais dão entrada em emergências, internamentos, cirurgias de emergência, os que mais ocupam leitos de UTI. Os motociclistas também lideram entre os politraumatizados.

Só não lideram as aposentadorias por invalidez, porque a maioria dos que trabalham como entregadores não têm vínculos trabalhistas com os estabelecimentos que os contratam. Como ganham por entregas parece que correr se tornou normal ou uma necessidade em que os fins explicariam os meios para fazer a comida chegar quentinha e rápido nos endereços dos clientes.

A rotatividade é alta entre os entregadores, que chegam a trabalhar a noite toda e durante o dia têm mais de dois empregos, conduzem as motos cansados, esgotados e até desrespeitando o tempo de recuperação entre um acidente e outro.

Será que já não se tem riscos demais para se criar outros?

As estatísticas e as evidências mostram que as consequências dos sinistros de trânsito com motociclistas causam tantos danos que os coloca como atores principais em uma sociedade dos inválidos. A questão é fazer os próprios motociclistas, gestores e a sociedade compreenderem isso para além dos alertas dos “chatos” da segurança no trânsito e dos “chatos” da fiscalização.

Texto escrito por MÁRCIA PONTES

Márcia Pontes é escritora, colunista e digital influencer no segmento de formação de condutores, com três livros publicados. Graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul, especialista em Direito de Trânsito pela Escola Superior Verbo Jurídico, especialista em Planejamento e Gestão do Trânsito pela Unicesumar. Consultora em projetos de segurança no trânsito e professora de condutas preventivas no trânsito. Vencedora do Prêmio Denatran 2013 na categoria Cidadania e vencedora do Prêmio Fenabrave 2016 em duas categorias.

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