Dos atropelamentos que se têm notícia em Blumenau nas últimas semanas destacam-se três pela violência e gravidade. Dois pedestres morreram enquanto atravessavam na faixa de segurança e por pouco a ciclista Karen também não morreu. Um motociclista furou o sinal vermelho e colidiu violentamaente com a bicicleta que ela pedalava enquanto atravessava na faixa de pedestres da Antônio da Veiga.
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Com parte da sociedade e usuários do trânsito anestesiados pela indiferença e ignorando que podem ser ou fazer as próximas vítimas, o Movimento Blumenau Respeita a Faixa tenta sensibilizar as pessoas e autoridades para se colocar um freio nessa matança em cima da faixa. Vidas na faixa importam e não deveria ser só para os órfãos.
Indiferença
A morte de Charles Longen, 52 anos, um pai que acompanhava a filha na escolha do lugar para morar em Blumenau enquanto ela cursava a Universidade já deveria ter sensibilizado as pessoas e as autoridades. Ele e a filha atravessavam a faixa de pedestres na Rua São Paulo quando foram atingidos por um furgão que pesa cerca de 1,5 tonelada. Ele não resistiu. Foi no dia 19 de janeiro deste ano.
Menos de um mês (no dia 22 de fevereiro) depois, a ciclista Karen, de 31 anos, teve a sua trajetória interrompida com violência enquanto atravessava pedalando na faixa de pedestres na Rua Antônio da Veiga. Um motociclista furou o sinal e colidiu com a bicicleta. O corpo de Karen girou no ar e arrastou-se alguns metros no solo.
Ela passou por uma cirurgia de 4 horas para conter um a hemorragia, foi intubada 4 vezes em um mês de UTI, fez várias cirurgias e perdeu 8 quilos. Teve fraturas na pelve, nos punhos, no tornozelo no fêmur e na cervical. Não morreu porque não era a hora. Karen mudou-se de Blumenau para continuar o tratamento de recuperação dos movimentos em Florianópolis.
No dia 19 de abril, dona Rotraud, de 73 anos, e o marido, de 74 anos, foram atropelados enquanto atravessavam a faixa de pedestres na Rua General Osório. Eles estavam quase completando a travessia e o que chama à atenção é que a motorista de uma camioneta Santa Fé manteve a marcha do veículo sem qualquer sinal de redução de velocidade, frenagem ou desvio dos corpos dos pedestres. A idosa morreu, e a Polícia Civil investiga enquanto a motorista responderá por homicídio culposo na direção de veículo automotor.
Com isso Blumenau vai registrando um atropelamento com gravidade por mês em 2022.
Fragilidade do corpo humano
Imagine a coisa absurda que é o corpo humano em toda a sua fragilidade ser violentamente impactado por uma caixa de lata que pesa cerca de uma tonelada e meia! Ainda mais quando se tratam de idosos, que já caminham com dificuldade e têm de lidar com as comorbidades trazidas pela idade.
Torna-se insuportável até para quem atropela imaginar por um minuto que seja que pudesse estar colidindo com a própria mãe, pai ou outras pessoas e idosos da família. É aí que todo mundo se machuca.
Distração e decisão errada
O trânsito não tolera erros, alguém vai pagar a conta com a vida e esse é um preço alto demais! Vai que dá, decisão errada, distração, sensação de isolamento ao entrar no veículo. É uma questão de segundos para que uma infração que dê errado torne-se tudo, menos acidente enquanto algo que não se pode prever.
Desde o momento em que o condutor percebe o perigo à sua frente e ele precisa acionar o pedal de freio, o tempo de reação costuma ser entre 0,2 e 0,7 segundos. Durante esse intervalo o veículo se movimenta com velocidade praticamente constante. Se o motorista está distraído ele não vê, não percebe, não reage, não freia, não desvia e mata.
A distância de frenagem é aquela que o veículo percorre a partir do momento em que o motorista pisa no freio até a sua parada total – e isso vai depender muito da velocidade com que conduz o veículo.
Desafio
Um dos maiores desafios no trânsito de Blumenau é frear essa matança em cima das faixas de pedestres. A menos que a pessoa viva isolada e incomunicável numa caverna ela já ouviu falar das mortes de pedestres nas faixas.
Então porque elas não respondem aos apelos por mais atenção nos seus deslocamentos em via pública? Por que não mudam o modo de conduzir os veículos?
Grito de socorro
Mais atropelamentos estão freneticamente ocorrendo sobre a faixa de pedestre, onde as pessoas deveriam estar seguras, e quando outro atropelamento é noticiado isso nos choca. Mas, não ainda o suficiente para fazer com que as pessoas mudem as suas atitudes e comportamentos no trânsito.
O Movimento Blumenau Respeita a Faixa lamenta por todas as sequelas físicas e emocionais que essas vítimas e seus órfãos levarão consigo. “O desejo de mudança nos comove ainda mais. Até quando vamos ver cenas como essas? Poderia ser você, poderia ser seus pais, seus filhos, seus avós… Como você se sentiria?”, questiona Rúbia Mohr, uma das criadoras do movimento.
Ela diz que o excesso de confiança nos faz crer que conosco não irá acontecer, que damos conta, e lança a pergunta: “Como você estaria se sentindo agora se fosse o motorista que atropelou?”. Somos todos seres humanos e, portanto, passíveis de falha, no entanto persistir em erros que podem ser evitados vai além da humanidade, completa Rúbia.
O Movimento Blumenau Respeita a Faixa foi criado logo após a morte de Charles Longen como uma forma de sensibilizar a sociedade para a necessidade de autocuidados no trânsito.
O apelo agora é para que as pessoas se unam para ajudar a mudar essa realidade, expandir o grito de socorro para que se passe a entender que o respeito e boas atitudes no trânsito são fundamentais!
Por maior que seja a correria, a pressão do dia a dia, a necessidade de chegar rápido a algum lugar, é inaceitável que pessoas paguem com a vida pela sua pressa, pelas suas decisões erradas, pela sua distração e pelas suas infrações no trânsito.
Se você não entende isso, das duas uma: ou será morto ou vai matar em via pública.

Márcia Pontes é escritora, colunista e digital influencer no segmento de formação de condutores, com três livros publicados. Graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul, especialista em Direito de Trânsito pela Escola Superior Verbo Jurídico, especialista em Planejamento e Gestão do Trânsito pela Unicesumar. Consultora em projetos de segurança no trânsito e professora de condutas preventivas no trânsito. Vencedora do Prêmio Denatran 2013 na categoria Cidadania e vencedora do Prêmio Fenabrave 2016 em duas categorias.