Eis um tema que gostaria de ter explorado faz tempo.
Relutei porque faltava conviver com alguém envolvido com esse dilema.
Ao me tornar colega de trabalho de uma pessoa ligada diretamente à vida e à rotina de um atleta, tive a real dimensão do que significa esse sentimento.
O quão difícil é tomar uma decisão.

Nesta sexta-feira (29) nos despedimos de Flávia Prata.
Foram 14 meses de contato na NDTV.
Sua função era abastecer o Portal ND+ com publicações da emissora.
Ainda participava diariamente dos programas Balanço Geral, Ver Mais e Tribuna do Povo.
Educada, humilde, competente.
Vai deixar saudades.

Flávia está indo embora porque o namorado recebeu um convite para defender o Vôlei Renata de Campinas SP.
Para ganhar três vezes mais do que recebia na Apan.

Salário é uma coisa íntima de cada um.
Os clubes e os jogadores geralmente não revelam os valores.
Mesmo assim, acredito que o central de 2,03 cm, por estar aqui desde 2020 e ter se destacado na atual Superliga, tinha rendimentos mensais de R$ 5 mil.
O aluguel do apartamento, no bairro Victor Konder, que eles dividiam desde então, não estava incluído nessa conta.

Quem trata das negociações dos atletas com os dirigentes são os empresários.
Não é só no futebol.
Foi colocada na mesa a proposta da equipe paulista.
O clube, logo de cara, deixou claro que não tinha condições de cobrir.
Absolutamente normal.
O tempo foi passando.
A concorrência aumentando.
Nenhuma contraproposta chegando.
Era preciso dar uma resposta.
Mesmo com dor no coração, Lucas Fonseca (e Flávia Prata) confirmou sua ida para São Paulo.

Ele é de Três Corações.
Ela de Uberaba.
Por coincidência do destino, dois mineiros, que se conheceram no ABC paulista.
Em 2017.
Jogando vôlei.
Flávia no Ibirapuera.

Lucas em Santo André.

Nesse período muitas mudanças e incertezas.
Lucas se transferiu para o Palmas PR, onde teve uma rápida passagem.
Flávia acertou com São Bernardo.
Por fim, defendeu o Paulistano.

Cidade grande.
Solidão.
Namoro à distância.
As melhores amigas também se mudando.
O receio de ter ficado um ano sem jogar por conta de uma operação no joelho.
Tempos difíceis.
Decidiu parar.
Com 17 anos.
Voltou para Uberaba.
Foi estudar jornalismo.

O jogador fechou com Juiz de Fora MG (2018/2019).
Posteriormente com Montes Claros MG (2019/2020).
Até chegar em Blumenau (2020/2021).
Vieram juntos para Santa Catarina.

Flávia enviou currículo para vários veículos de comunicação.
Até que foi chamada pela TV Gaspar.
Seis meses depois foi convidada por Alexandre Pereira para integrar o Grupo ND.

Lucas e Flávia se adaptaram muito bem à nossa terra.
Amam esse lugar.
Se dependesse da emoção não sairiam daqui tão cedo.
Só que afeição não paga conta.
A razão, a perspectiva do novo desafio em um centro maior e com mais perspectivas nas duas áreas de trabalho, e sobretudo, o amor que nutrem um pelo outro falaram mais alto.

Só eles sabem as dificuldades que enfrentaram lá atrás.
O quanto ralaram.
Por tudo isso, seria injusto pensar individualmente.
Afinal, a história está sendo escrita pelos dois.
Flávia ainda não concluiu a faculdade.
Está no 6º período.
Logo, não pode ser registrada – e ganhar um salário melhor – como jornalista.
Como o curso não é presencial pode finalizar em qualquer lugar.

Um detalhe crucial, que muitas vezes não levamos em conta na hora de criticar o desempenho de um atleta é a saudade da família.
Lucas não vê os parentes faz um ano.
A distância de São Paulo para Minas Gerais vai dar uma boa reduzida.

Guardadas as devidas proporções e roteiros, o mesmo vale para outros dois jogadores, que assim como Lucas Fonseca, foram desejados pelos concorrentes.
Lucas Borges está indo para o mesmo Campinas SP.
A Apan até teria condições de cobrir a oferta.
Como já conta no elenco com o cubano Bisset e o incansável Jamelão para a posição, optou por liberar o oposto.

Por sua vez, o levantador Rodrigo Ribeiro está se transferindo simplesmente para o hexacampeão da Superliga Sada/Cruzeiro – que venceu o primeiro jogo da final contra o Minas.
Salário três vezes maior.
Como argumentar?
Como competir?

Além do mais existe uma política orçamentária.
O clube só oferece o que realmente consegue pagar.
O planejamento sempre foi a médio e longo prazos.
Se deu certo até agora não há porque mudar essa mentalidade.
Fazer uma loucura, trazer uma estrela, derrubar o teto, ao mesmo tempo não valorizar quem fica (ou recebeu proposta) pode soar injusto e até produzir efeitos negativos no dia a dia.

Lucas de Oliveira Fonseca. 24 anos.
Flávia Prata. 21 anos.
Um lindo casal.
Ainda sem filhos.
Com enorme potencial de crescimento.
Não há como negar uma proposta desse tamanho.

Toda sorte do universo aos dois.