O título do Brusque me fez lembrar o quão fui privilegiado ao trabalhar em rádio como repórter de campo.

A conquista do último domingo (3) sobre o Camboriú também me remeteu a 1992, no mesmo Augusto Bauer.
Não me sai da retina o gol de Cláudio Freitas na prorrogação – no tempo normal houve empate em 1 x 1.
Aliás, golaço!
Visto da forma que vi, atrás da trave, há poucos metros do lance, só aumenta a nostalgia.

Fazer uma final tensa e com casa cheia não tem preço.
É um batismo importantíssimo para ganhar confiança.
Especialmente quando se está começando a carreira.
Momento ímpar que ainda me fez recordar dos demais campos que frequentei e atuei com um microfone na mão (muitas vezes acompanhado de um fio de 100 metros).
Sobretudo das memoráveis coberturas no velho Deba.

Tenho poucos registros da profissão.
Já escrevi sobre isso aqui no Portal.
Primeiro porque quando comecei, em 1990, não tinha condições de comprar uma máquina fotográfica, hábito nunca cultivado na família.
Muito menos grana para investir em um Motorola PT-550, aparelho que chegou ao Brasil no mesmo ano, junto com a telefonia móvel.

Segundo porque nunca me preocupei com isso.
Estava focado mesmo em aprender e me especializar.
Entrevistar os protagonistas (saber perguntar) era o mais importante.
No decorrer da profissão mantive a mesma postura.
Tanto é que nem faço ideia de quem tirou e me cedeu esta foto batida no Aderbal Ramos da Silva com o meia Biro Biro, em 1994.

Na foto abaixo, o saudoso Mirandinha está bem à vontade ao lado do time do Blumenau.
Mostra como os profissionais tinham liberdade nos jogos.

Assim como Gilberto Silva no mesmo Aderbal.

Não menos importante é o momento em que Ricardo Santos conversa com os atletas no Sesi.
Tudo isso nos anos 80.

Não existia frescura ou mimimi.
Tão chatos e desnecessários hoje em dia.
Repórter podia conversar no gramado com jogadores, técnicos e até árbitros.
Fico imaginando a sensação, a atmosfera bacana envolvidas em dia de jogos do Palmeiras.

Quantas vezes entrevistei nos vestiários boleiros pelados, se trocando, na banheira, na maca…
Evidente que o universo feminino está cada vez mais inserido no futebol.
E isso é muito positivo.
Contudo alguém imagina esse cenário hoje em dia?
Os caras falam só na coletiva e/ou zona mista.
E olhe lá.
Sem contar que a maioria é mal humorado e monossilábico.
Bem diferente de modalidades como basquete, futsal, handebol, vôlei…
A diferença de comportamento (e discurso) é gritante.

Trabalhei muito tempo com Rodolfo Sestrem.
Só tenho a foto acima junto com a lenda da comunicação blumenauense.
Foi nos Jogos Abertos de 1992 em Joinville.
Aqui aparecem apenas alguns integrantes da equipe de esportes da Rádio Clube.
Entre eles, além do Sestrem, Enei Mendes, Edmilson Flores, Luiz Carioca, José Carlos Goes, Ricardo Santos, Paulo César e um moleque todo empolgado de boné amarelo em seu primeiro JASC.

Alexandre José me enviou essa relíquia.
Ele ao lado do “Galo” e outras figuras de peso como Waldimiro Grundmann e Hamilton Cunha, nos Jogos Abertos de Itajaí em 2001.
E essa pérola com César Paulista e Biro Biro (o original do Corinthians) que veio disputar o campeonato amador de Pomerode em 2002, numa baita sacada de marketing do Vera Cruz.

O que fiz ao longo dessa jornada foi guardar algumas credenciais.
Os parcos crachás são testemunhas de um tempo épico que vivi no rádio blumenauense.
Uma das coisas que mais sinto falta é não ter nada (além de memórias) de uma viagem que participei em janeiro de 1996.

Rio de Janeiro.
Maracanã.
Taça Cidade Maravilhosa.
Vasco 0 x 0 Flamengo.
Vi Romário jogar.
Carlos Germano fechar o gol.
Jorge Aragão na narração, Sebastião Aragão nos comentários, Paulo César (PC) e eu nas reportagens.
“Só” 40 mil torcedores na inimitável geral e nas arquibancadas.
Indescritível.

Fomos e voltamos de carro.
Um Monza.
1.038 km.
Só de ida.
Quando ainda não existia o Contorno Leste em São José dos Pinhais PR e muito menos duplicação na BR-101 e BR-116.
Reportei o jogo atrás do gol do lado direito do campo (como vemos na TV).
Pisei e sentei na grama do velho Maraca.
Um sonho realizado.

E lembrar que a primeira emissora de rádio de Santa Catarina nasceu aqui.
A Rádio Clube.
Em 1931.
O programa “A marcha do esporte” foi pioneiro no estado.
Foi criado por Manoel Pereira Júnior.
Na mesma Clube.
Em 1943.

A decadência no futebol, tanto na cobertura radiofônica, como no campo, é de dar pena.
Caminham de mãos dadas.
Capengando.
À espera de um comprador.
Ou de um milagre.