No último domingo (29) tive o prazer de acompanhar dois jogos da Copa Pequenos Gigantes da Bola Oma Construtora.
Torneio de base disputado na grama sintética do Clube de Caça e Tiro Velha Central organizado pelo Núcleo de Futebol Cristais em parceria com a Liga Blumenauense de Futebol.
40 times de Blumenau, Indaial, Gaspar, Brusque, São João Batista, Itajaí, Jaraguá do Sul e Palhoça.
Fui convidado para comentar dois jogos nas categorias sub 15 e 17 em tempo real pela NFC Play.

Uma equipe com narrador (Cleiton Leicht), repórter de campo no final com as entrevistas (Cristiann Chiminelli Theiss que é o presidente também faz esse trabalho), um câmera central (Eduardo Hoeltgebaum) e um técnico na mesa de corte (Jeziel Naldo).
Tudo simples, porém muito bem executado.
Todos colaboradores da escolinha (exceção do cinegrafista e do fotógrafo Felipe Naldo) que já tem portanto uma televisão na internet.
Saiu na frente de muito clube profissional.

10 pessoas fazem parte do quadro de funcionários.
Dois treinadores, auxiliar, preparador físico, preparador de goleiros, marketing, motorista, secretária, gerente administrativo e até psicóloga.
Profissionais inseridos na rotina diária, a partir da iniciação (5 anos) até o sub 17.

230 alunos!
Antes da pandemia chegou a 268.
Todos devidamente registrados e remunerados.
Com responsabilidades e metas.
Tal qual uma empresa.
Um custo mensal, no geral, de cerca de R$ 35 mil.

Além da TV, o NFC também possui ônibus próprio e um veículo para serviços administrativos.
Para efeito de comparativo, inevitável, até esses dias na disputa da Série A do Campeonato Catarinense, o Metropolitano usava o micro-ônibus da escola de futebol AEFA/Alumetal, para treinos dentro da cidade e na região.
O empresário e vereador Carlos Wagner (Alemão) foi parceiro.
O mesmo vale para o BEC que vai ter de pagar para uma empresa de Pomerode quase R$ 12 mil nos oito deslocamentos que o elenco fará de Joinville para Indaial e outras cidades na Série C.
O campeonato (que agora liberou na súmula sete jogadores acima de 23 anos) começa no dia 25 de setembro – o Blumenau estreia contra o Caravaggio de Nova Veneza no campo do XV de Outubro.


No entanto se tem uma coisa que o Metropolitano tem e que uma escolinha como o NFC ainda não tem, e que faz muita diferença, é um Centro de Treinamento.
Embora ainda em fase final de acabamento (falta a academia), o CT do bairro Fidélis possui alojamento com 11 quartos com hospedagem para até 28 atletas e comissão técnica, vestiários, cozinha, refeitório, dispensa, área de jogos, lavanderia, rouparia, almoxarifado e salas para secretária e presidente.
E ainda espaço para ampliar a estrutura e construir campos para treinamento e até mesmo um estádio.
Uma sede própria de um clube profissional.


O NFC traça um caminho parecido com muita ousadia e organização, sem atropelar o cronograma.
Sua meta é se tornar um clube formador.
Em 2022.
Ou 2023.
Foi o planejamento elaborado quando a ideia saiu do papel em março de 2018.
Cinco anos de transição e de bastante trabalho nos bastidores para participar de uma competição promovida pela Federação Catarinense de Futebol.

Nesse ínterim, muito por conta do aspecto financeiro e da burocracia, a diretoria não descarta queimar uma etapa, e adquirir uma marca, por exemplo.
Como a do Santa Catarina Clube.
Que nasceu aqui em 1998.
E virou uma equipe itinerante (Blumenau, Navegantes, São Francisco do Sul, Imbituba).
Hoje não está na lista dos 29 clubes profissionais filiados na FCF.

O NFC consultou o mentor e presidente do SCC.
A diretoria do NFC ofereceu R$ 150 mil para bater o martelo.
Paschoal Roberto Benvenuto, o Écio Pasca, ex-meio-campo do Palmeiras em 1967 e 1968, campeão como treinador pela Portuguesa em 1991, na Copa São Paulo de Futebol Júnior, e ex-supervisor do BEC na década de 80, não aceitou.
Dessa maneira, sem esse tipo de acordo, seguindo todos os passos oficiais, o registro chega próximo dos 450 mil como aponta o site da FCF.

De todo modo dentro de campo esse processo está fluindo.
Entre o final de setembro e começo de outubro, o time comandado por Lucas César vai participar da Copa Santa Catarina sub 15.
Competição promovida pela Federação que por conta da pandemia decidiu chamar times amadores.
E também no próximo mês, o NFC vai estrear em um torneio amador da LBF.
Com gente identificada com o projeto (pais de atletas, professores, diretores/sócios, amigos), e com garotos do sub 17 entrando aos poucos para ganhar cancha.

No caso específico do torneio da FCF é uma faca de dois gumes, até porque se alguém se destacar (e pelo pouco que eu vi isso é muito provável) um empresário pode simplesmente persuadir o menino e a família e “tomar conta” da carreira do futuro jogador.
Existem meios de se ter um vínculo não oficial, tipo um contrato de gaveta.
É um risco que se corre por conta da informalidade.
O clube vai precisar fazer uma blindagem porque a gurizada é bem treinada e tem concepção de jogo.
Alguns já são agenciados.

Um caso emblemático de lamentação envolve Jorge Luis Frello Filho, o Jorginho, eleito o melhor volante da Europa.
O catarinense de Imbituba jogou e morou em Guabiruba entre os 13 e 16 anos.
Como o Guabiruba Calcio (hoje AFEG – Associação de Futebol de Guabiruba) não possuía vínculo federativo acabou fazendo uma parceria com o Brusque.
Que só emprestou o nome.
E o uniforme.
Jorginho foi para Itália em 2008.
Jogou na base do Hellas Verona.
Foi emprestado para o Sambonifacese, time da terceira divisão, onde atuou na sua primeira temporada profissional.

Voltou para Verona em 2011.
Em janeiro de 2014, assinou contrato com o Napoli de quatro anos e meio.
Em julho de 2018 foi confirmado como novo jogador do Chelsea.
Foi vendido por cerca de 50 milhões de euros.

No mecanismo de solidariedade da FIFA, o clube formador teve direito a 0,9% da transação.
A AFEG nunca viu a cor do dinheiro.
O Brusque, mesmo sem nenhum atleta seu jogando em Guabiruba, sim.
Faturou mais de R$ 2 milhões pagos em três parcelas.

Um duro golpe.
Que o NFC espera não receber.
Como bem lembrou o presidente Cristiann Theiss:
“Um passo de cada vez. Vai acontecer na hora certa. No tempo certo”.
