Poderia ser no Garcia, Itoupavazinha, Fortaleza, Ponta Aguda, Vila Nova…
A origem, as raízes são sempre importantes.
Mas nesse caso é só uma questão geográfica.
O relevante mesmo é o destino.
A maneira como o caminho foi pavimentado.
E a trajetória de Matheus Gabriel de Liz Correa é a prova de que quando criança (ou até mesmo adolescente) nem tudo acontece como a gente quer.
Ao mesmo tempo confirma que acasos existem.
Embora imprevistos necessitem de persistência e disciplina para que se tornem realidade.
Matheus começou a estudar no Hercílio Deeke, na José Reuter.
Sempre quis fazer alguma atividade esportiva.
Por aproximadamente um ano e meio foi goleiro no Caça e Tiro Velha Central.
Ele acredita que a baixa estatura o prejudicou na época (hoje tem 1,77 de altura).
Tentou a natação.
Como perdeu a data da pré-seleção do programa de Iniciação Esportiva no colégio Alberto Stein, não conseguiu se inscrever.
Incentivado pelo irmão Sami Roger que começou a correr tarde, com 22 anos, e parou cedo, aos 23, por causa de lesões, foi conhecer o trabalho de atletismo que era desenvolvido na Escola João Durval Muller.
Foi quando entrou na sua vida Marina de Gang que era responsável pelo polo de iniciação esportiva da marcha atlética – hoje quem tenta resgatar esse trabalho na mesma escola é Nair Rosa.
A medalhista no Mundial de Atletismo Master de 2013 viu potencial no menino de 12 anos e o encaminhou para Ivo da Silva.
Foi lapidado e orientado pelo mestre da modalidade em Blumenau.
Desde então, os resultados nas categorias de base são impressionantes.
A relação é tão sincera que Matheus não se enxerga trabalhando com outro treinador.
“Ele é como um segundo pai. O dia que isso acontecer vou eu mesmo cuidar da minha preparação”.
Matheus está cursando a faculdade de educação física.
O blumenauense não sabe ainda quando vai embarcar para a Ásia.
Até lá segue focado na prova dos 20 mil metros que será no dia 5 de agosto às 16h (4h da madrugada no nosso horário), em Sapporo (e não mais em Tóquio), a quinta maior cidade do Japão.
A decisão pela mudança ocorreu por conta do forte calor previsto na capital, entre 32°C e 35°C e umidade entre 70% e 80%.
E, em Sapporo, com quase dois milhões de habitantes, que recebeu a Olimpíada de Inverno em 1972, a tendência é que as temperaturas sejam pelo menos cinco ou seis graus centígrados a menos.
Tudo o que está acontecendo é fruto de muito suor, privações e planejamento.
Só que existe muita consciência quanto ao seu desempenho.
Matheus e Ivo sabem que a participação servirá como uma experiência incrível para o seu futuro nas pistas e para o resto da vida, e reconhecem que alcançar um pódio é praticamente improvável.
Quando conquistou a vaga, em abril, no Torneio Cidade de Bragança Paulista (depois de viajar cerca de 700 km ao lado de outros dois atletas e o presidente da AABLU em um Volkswagen Fox até São Paulo), seu tempo foi de 1h20min49s13.
Recorde brasileiro e sul-americano sub-23.
O primeiro colocado, o brasiliense Caio Bonfim (que vai disputar os 50 km), fez a marca em 1h20m13s68, novo recorde sul-americano.
No Troféu Brasil, em junho, no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, na Vila Clementino, em São Paulo, Matheus também terminou atrás de Caio.
Completou a prova em 1h22min13s57 – o índice olímpico é 1h21min.
Tempo portanto inferior ao conquistado dois meses antes.
O atual recorde mundial é justamente de um japonês, Yuzuke Suzuke, com 1h16min36s
Tudo vai depender do dia, do momento, mas por aí já se vê o nível da prova que será praticada em circuito de rua.
De todo modo, independente do que vai acontecer no Japão, mirem-se no exemplo desse jovem.
Não deu certo em uma determinada modalidade, não tem problema, procure outra, não desista.
O menino que sonhava em ser jogador de futebol ou nadador e que sofreu na marcha atlética com o preconceito, já conheceu pelo menos nove países – Chile, China, Colômbia, Equador, Espanha, Finlândia, Guiana, Itália, Peru – e dentro de um mês estará representando o Brasil e especialmente o Ristow, na maior competição do planeta.
Tudo começa na escola.