Copa América, Eliminatórias, CBF, Conmebol, Rogério Caboclo, política, pandemia, boicote.
Temas ligados à seleção brasileira dominaram as manchetes no começo da semana.
No fim, muito barulho por nada.
O manifesto dos jogadores que teve como cabeças Marquinhos, Casemiro e Neymar foi oco.
Atacou a Conmebol.
Poupou a CBF e o governo.
Um pensamento unânime na convocação para a Copa de 2022.
Os boleiros deram o famoso nó tático nos jornalistas, especialmente naqueles que sonhavam com uma revolta.
O perfil do time indicava que nada impactante seria produzido.
Ao mesmo tempo não se esperava tamanha omissão.
Nenhum gesto de solidariedade à funcionária da CBF, nenhuma palavra de repúdio à Rogério Caboclo, o presidente assediador, nada de aceno à faxina no comando do futebol no país.
Preocupação com a pandemia, com a saúde do povo brasileiro, insatisfação política?
Nada.
Ninguém concedeu entrevista.
Preferiram usar as redes sociais.
Cada um, na sua.
A entrevista de Tite foi superficial.
“Não sou hipócrita, não sou alienado e sei que as coisas acontecem. Mas sei dar prioridade. Prioridade é meu trabalho e a dignidade do meu trabalho”.
“Meu limite é o da serenidade, da paz, do grande trabalho que conseguimos, com todo o estafe”.
A resposta à pergunta obrigatória, sobre o boicote ao torneio, foi uma decepção.
Tite sabe que vazou a postura de Rogério Caboclo cobrando, gritando com ele e com os atletas, na reunião da semana passada, quando a equipe se colocou contra a disputa da Copa América.
O treinador perdeu a oportunidade de colocar o dedo na ferida.
Foi mais um que pensou no Catar.
Ao mesmo tempo estava ciente da pressão do governo, o conflito de interesses e a própria sombra de Renato Gaúcho.
O tema é delicado.
“A gente não viu o Tite falando nada quando a Copa América seria realizada na Argentina.”
“Bastou a CBF pedir para o presidente Bolsonaro a autorização para que ela acontecesse aqui no Brasil para que o Tite se posicionasse politicamente.”
“É um hipócrita, porque a gente tem vários vídeos dele no passado onde ele faz referências, puxa um saco do ex-presidente Lula sem tamanho.”
“Mas falou de Bolsonaro, ele fecha a cara e faz de tudo para boicotar”.
As frases são do senador Flávio Bolsonoro, filho do presidente.
Na conquista da Copa América de 2019, o técnico não fez nenhuma questão de aparecer ao lado dos jogadores, na tradicional foto com a taça.
É um direito seu.
Assim como foi de Diego Souza e Felipe Melo no futebol.
De Wallace e Maurício Souza no vôlei.
No caso específico do vôlei, ocorrido em 2018, a suposta manifestação de apoio a Jair Bolsonaro redundou no veto de expressões políticas coletivas.
Em geral, entidades esportivas proíbem qualquer exposição relacionada ao assunto entre os atletas que participam de seus eventos.
O Comitê Olímpico Internacional, por exemplo, desautoriza expressamente manifestações políticas nas Olimpíadas, assim como a Fifa no futebol, sob risco de multas e exclusões
“A partir de agora a gente vai ver o que vai ser decidido. Há uma hierarquia”, diz uma parte do manifesto.
Claro que há.
Em todo lugar.
O elenco e a comissão técnica não gostaram do tom das cobranças do presidente da CBF.
Se sentiram subordinados.
No fundo, são.
Todos somos.
A diferença é a (in) dependência.
O ganha pão.
Ligar o f***-se não é uma arte sutil e simples.
Carol Solberg é um dos pontos fora da curva quando o destaque é o engajamento.
Para quem não lembra, em setembro de 2020, após conquistar a medalha de bronze do Circuito Nacional de Vôlei de Praia, ela surpreendeu com um grito de “Fora, Bolsonaro”, durante uma transmissão ao vivo.
Foi um rebuliço.
A atleta foi denunciada com base em dois artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
Há questões político-econômicas que extrapolam a discussão do direito de Carol, afirmou o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, como o patrocínio do Banco do Brasil à modalidade.
O banco estatal é naturalmente ligado ao governo e se especulou que até ameaçou cortar os investimentos depois do ocorrido.
No fim, Carol foi absolvida.
No entanto, recebeu uma advertência, ao ser proibida de se manifestar outra vez nas arenas e durante as partidas.
Mesmo assim, em março, ela voltou a criticar o sistema, na semifinal do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia.
“Tem sido muito duro manter a cabeça boa. A gente vivendo uma pandemia, completando 290 mil mortes. Eu acho que a gente precisa ter consciência disso como atleta. É um desafio muito grande manter minha cabeça boa, concentrada, durante as preparações para os jogos. Então, a gente, como atleta, precisa ter consciência disso. É absurdo o que está acontecendo no Brasil, tristeza, incapacidade de governar”.
Ela mesmo admitiu a dificuldade de se expressar em entrevista cedida para a revista Trip em dezembro de 2020.
“A realidade do atleta brasileiro é muito dura, a grande maioria está pensando no seu prato de comida. Querer e exigir desse atleta que ele também seja engajado politicamente é um pouco injusto às vezes”, afirma.
Sozinha, Carol Solberg fez muito mais do que essa geração alienada e submissa que vai nos representar a partir deste domingo (13).