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Trânsito: Blumenau é a terceira cidade no Estado com motoristas acima de 90 anos, por Márcia Pontes

Dos 295 municípios catarinenses, Blumenau é o terceiro com maior número de idosos acima de 90 anos que possuem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Só fica atrás de Joinville, com 79 idosos nessa faixa etária, e de Florianópolis, com 158. Em todo o Estado de Santa Catarina são 1.157 motoristas habilitados acima de 90 anos; destes 63 estão em Blumenau (em 2019 eram 77 idosos habilitados).

Outros 23.656, em todo o Estado, têm idade entre 80 e 89 anos e 1.331 estão em Blumenau (em 2019 somavam 1.262). Essa alta dentre os idosos habilitados chama à atenção para os cuidados com o motorista já em idade avançada não só como condutor, mas também em relação aos outros papéis que eles assumem no trânsito. A coluna de hoje vem de amenidades, mas sem descuidar da seriedade do assunto.

Se tem dado pouquíssima atenção aos idosos no trânsito em relação a todos os papéis que eles exercem no trânsito. Pouco se fala, pouco se vê em campanhas educativas até nacionais sobre as vulnerabilidades dessa parcela da população. Só o médico perito examinador do Detran é que pode barrar a renovação da CNH de um motorista idoso, mas o médico que comumente os acompanha também pode orientar o paciente e a família sobre o momento em que chega a hora do idoso parar de dirigir. 

Vulnerabilidades

Com a idade chegam as comorbidades e o corpo começa a sentir: a acuidade auditiva e visual diminuem assim como a atenção e a capacidade de concentração. Os reflexos já não são tão rápidos na hora daquela olhadinha rápida, porém detalhada nos retrovisores, em partes envidraçadas do veículo, nas frenagens e manobras. Quanto mais avançada a idade mais lenta a condução do motorista. A visão costuma ser uma das partes mais afetadas. 

Como pedestres os idosos se tornam vítimas fáceis em casos de atropelamentos já que a marcha é mais lenta, a mobilidade fica comprometida, alguns sofrem perdas importantes da audição e não ouvem os sons naturais do trânsito como buzinas, sirenes e até gritos de alerta. O tempo de abertura e fechamento dos semáforos geralmente não é suficiente para que o idoso faça uma travessia segura. Se houver falhas no pavimento o risco de quedas e fraturas aumenta. Não adianta buzinar, gritar ou xingar para apressar um idoso no trânsito: isso só piora as coisas. 

Uma pessoa mais jovem quando é atropelada a 20 quilômetros por hora tende a cair, bater a poeira das roupas e sair ilesa, no máximo com algum arranhão. Já um idoso não: o corpo frágil e as outras doenças típicas da idade agravam a situação. São muitos os casos em que num atropelamento a esta velocidade alguns idosos sofrem com fraturas de fêmur, bacia e até traumatismo craniano. Mesmo quando socorridos imediatamente o quadro se grava e eles não resistem por muito tempo. 

Até que idade o idoso pode dirigir?

Idosos que gozem de boa saúde dadas as suas condições em razão da idade podem continuar dirigindo desde que haja acompanhamento médico frequente, antes mesmo do prazo de três anos para a renovação da habilitação. É necessário que haja acompanhamento das alterações no quadro de saúde de motoristas com mais idade, o que nem sempre acontece. 

Não raro, os familiares passam trabalho para convencer um motorista idoso a parar de dirigir, seja porque já constataram que a direção não é mais segura como antes, seja por recomendação médica. Sim, alguns idosos ficam teimosos nesse ponto e quando impedidos de dirigir porque a família esconde a chave e os documentos do carro, se eles encontram a chave dirigem mesmo. 

O que chama à atenção nos dados publicados no site oficial do Detran/SC é a quantidade de idosos com CNH acima dos 80 e dos 90 anos. Se todos eles dirigem não se sabe, mas o fato de terem CNH ativa é bem possível que muitos sim. Dentre os motoristas entre 80 e 89 anos, em Blumenau, somavam 1.262 no ano de 2019 e esse número aumentou para 1.331 em 2020. Se habilitaram nesta idade ou transferiram as suas CNHs de outro estado para Santa Catarina é bem possível que muitos ainda dirijam. 

Os muitos anos de direção dão prática, mas as comorbidades e outras consequências do avanço da idade pesam. Precisam ser compreendidos e acompanhados pela família e pelos médicos que os atendem para melhor orientar e avaliar o momento de parar de dirigir. Precisam ser compreendidos e respeitados pelos demais usuários do trânsito em todos os papéis que exercem em via pública. 

Para lá de curiosidade, a quantidade de pessoas idosas com idades acima de 80 e 90 anos habilitadas para dirigir em todo o Estado, os números chamam à atenção de todos e emitem um sinal de alerta para quem faz a gestão e as campanhas educativas de trânsito nas cidades. Com a melhoria da qualidade que aumenta a expectativa de vida aliada à independência para se locomover, é bem possível que esse número aumente. Se não compreendermos os idosos no trânsito em todas as suas características corremos o risco de não protegê-los. 

Texto escrito por MÁRCIA PONTES

Márcia Pontes é escritora, colunista e digital influencer no segmento de formação de condutores, com três livros publicados. Graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul, especialista em Direito de Trânsito pela Escola Superior Verbo Jurídico, especialista em Planejamento e Gestão do Trânsito pela Unicesumar. Consultora em projetos de segurança no trânsito e professora de condutas preventivas no trânsito. Vencedora do Prêmio Denatran 2013 na categoria Cidadania e vencedora do Prêmio Fenabrave 2016 em duas categorias.

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