InícioEmerson LuisEsporte: Quem vai chorar por Pelé? Por Emerson Luis

Esporte: Quem vai chorar por Pelé? Por Emerson Luis

“Nasce num lugar inóspito, insalubre, família confinada à miséria pelo fatalismo canalha das relações sociais. Cuida dos seus desde menino, ganha o mundo com seu talento, mas a hipocrisia escrota não o perdoa por ter cedido à tentação das drogas. Os Maurícios de Wall Street podem”.

Acompanhei muita coisa sobre a repercussão da morte de Maradona, mas o raciocínio do carioca Beto Sales, que extraí nesta sexta-feira (27) de sua conta no Twitter, tem tudo a ver com o que penso sobre idolatria.

Ou a comparação com Pelé.

E com Senna, de certa forma. 

Gosto de conversar com as pessoas antes de escrever algum artigo.

Ouvir as opiniões.

Durante a semana fiz a trivial pergunta para alguns colegas:

Será que vamos chorar quando Pelé morrer?

Ninguém disse que sim e nem que não. 

Um sentimento confuso.

Frio.

Um dos integrantes da roda, tradicionalista (ou moralista), se antecipou:

“Não há comparação entre Maradona e Pelé. Maradona se perdeu nas drogas. A história de Pelé não tem manchas”.  

Na mosca.

Outro lembrou de Ayrton Senna: 

“O Brasil chorou a morte de Senna. A dor é parecida com a que os argentinos estão sentindo agora”. 

Sim e não.

Foram circunstâncias distintas. 

Adorações e adulações diferentes. 

Senna estava no auge. 

Era nosso maior ídolo.

Estávamos carentes.

Tinha só 34 anos.

Seu acidente fatal foi inesperado.

Um choque.

Foi uma comoção sem precedentes.

A maior da nossa história.

Talvez a tragédia da Chapecoense tenha causado um estarrecimento parecido no primeiro momento por conta do número exagerado de vítimas: 71.

Maradona vinha morrendo aos poucos.     

Tinha 60 anos.

Era uma divindade.

Imortal. 

Como Senna.

Como Pelé. 

O eterno camisa 10 do Santos e da seleção não gera por aqui a devoção de Maradona, mas milhares de fãs prendem a respiração quando há um alerta sobre sua saúde. 

Edson Arantes do Nascimento sempre gostou de repetir que, como os Beatles, é mais “famoso que Jesus”. 

O contexto (ou seria o julgamento) muda quando quem profere esse tipo de frase chega aos 80 anos de idade com a moral intacta, sem nenhum tipo de escândalo no currículo.

No Brasil, poucos se atrevem a questionar sua supremacia no panteão do futebol, mas Pelé é às vezes criticado pela falta de compromisso com causas sociais, principalmente contra o racismo.

O Rei está errado?

Não sei.

A maioria das pessoas lava as mãos e fica em cima do muro.

Cada um com seu ponto de vista.

Ou interesses.

De qualquer maneira, no contexto geral, temos o hábito de valorizar pouco as pessoas vivas e depois cultuá-las quando morrem.

No caso de Pelé, só teremos a percepção do seu tamanho quando o inevitável dia chegar.

Muitas coisas contrastavam entre um Maradona rebelde e um Pelé mais politicamente correto, avesso a polêmicas.

Mas os dois se apreciavam e se respeitavam.

Em 2000, o brasileiro foi eleito o Jogador do Século por especialistas da Fifa, enquanto Maradona obteve a mesma honraria no voto popular.

“Pelé é Rei, Maradona é Deus. O Rei é aquela figura que tem súditos. Maradona é um Deus com quem todo mundo queria ser íntimo, ele era a representatividade maior”, resumiu o jornalista Alexandre Lozetti.

“Maradona foi o melhor Pelé de todos os tempos”, definiu o escritor Luis Fernando Verissimo. 

Maradona foi louco, exagerado, dramático, visceral, arrogante, intenso, humano.

Contudo, esqueçamos os defeitos tão enaltecidos em quem é falível, e nos concentremos, de fato, ao que interessa, o que Dieguito fez dentro de campo.

E fora dele, como treinador, também, embora em escala bem menor.

Em 1ºde maio, no auge da paranoia da pandemia, tinha recomendado aqui no Portal alguns documentários de esporte da Netflix, entre eles “Maradona no México”.

Que conta a sua passagem como treinador no Dorados, de Culiacán.

Inexpressivo no cenário nacional, o time ocupava a lanterna da divisão de acesso quando a lenda argentina assumiu e causou uma revolução no clube.

É impressionante o poder que ele exerce nos jogadores.

Especialmente quando some da cidade em uma de suas recaídas.

O destempero também aparece.

Maradona perde a cabeça, responde a xingamentos de torcedores rivais, é expulso por besteira em uma final de campeonato, dá bronca em crianças que efusivamente pediam autógrafos…

Enfim, mostra o que ele sempre foi.

Errante.

Imperfeito.

Como todos nós.

O mais humano dos deuses do futebol. 

“Não julgamos Maradona pelo que fez com a sua vida, mas pelo que fez com a nossa”.

Depoimento de um integrante da Igreja Maradoniana.

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