Procure em qualquer bairro, rua, esquina, praça ou travessa dessa cidade. Se você encontrar o nome de Ferdinand Hackradt por aí designado entre nossos logradouros, prometo que como minha boina pura e sem sal.
Sócio de Dr. Blumenau, na empreitada de começar um novo empreendimento em terras inexploradas do Vale, este alemão de Prignitz tem uma história que, se não é tão conhecida como seu ex-parceiro de negócios, é por conta daqueles desvios que nossa memória dá em assuntos um tanto “espinhentos”, e que não são poucos.
A passagem de Hackradt pela nossa origem é rápida, mas digna de nota. Ele e Dr. Blumenau estavam na canoa de Ângelo Dias rumo aos futuros lotes que receberiam para colonização as margens do Itajaí-Açu em 1848. Eram tempos onde as condições políticas de uma Europa ainda fragmentada eram propícias para novos negócios em novas terras, como a atraente e exótica América do Sul.
Começaram com uma serraria e outros pequenos afazeres para aprontar o lugar. Mas durante uma das viagens de Hermann para buscar recursos a incipiente colônia, tudo virou ao contrário. Enchentes eram uma constante por lá e Ferdinand não parecia mais disposto a apostar suas fichas naquele lugar instável fisicamente, indo morar em Desterro (Florianópolis) anos depois. Com um noivado desfeito e produtos da última viagem perdidos, terminar a sociedade era mais uma pancada nas intenções do farmacêutico prussiano.

Ouvi falar até em historinha em quadrinhos que dizia que o ex-sócio “gastou por aí” o parco dinheiro que restava em caixa. Não duvido, mas se aconteceu, é algo que ainda anda muito oculto nas rodas superiores que detém este lado obscuro de nossa história escondido. Ferdinand tem parentes ainda hoje e não pretendo os ofender, mas há buracos como o dele – e tantos outros – que nossa história teima em não contar.
A memória popular é feita de registros históricos responsáveis por recontar as transformações que vivemos. E isso merece incluir tanto os erros como acertos de Hermann e de outros personagens históricos.
Quem tem o mínimo de conhecimento sabe: por trás do belo conto, infelizmente, existem histórias pesadas, tratadas com desdém ou esquecimento histórico até hoje: as matanças de “bugres” (índios), a escravidão em nossas terras, até mesmo os verdadeiros motivos da criação da Oktoberfest, que vão bem longe do tal “levantar a moral do povo depois das enchentes”.
Enfim, aqui está nosso cartão de visitas, e muitas outras histórias e impressões de Blumenau e região vão parar por aqui. Por enquanto, fica o seu julgamento sobre Ferdinand Hackradt, herói ou vilão dos tempos a facão de colônia de Blumenau. A história – aquela sem esconder nada – fará a sua parte.

André Luiz Bonomini (o Boina), “filho do Progresso, Reino do Garcia”. Jornalista graduado pela Unisociesc, atua desde 2013 no mundo da notícia. Amante confesso do rádio, da música (de verdade), do automobilismo e da boa roda de amigos num dia qualquer. Apaixonado também por história, eterno louco em busca de mais um sorriso no dia a dia e poeta “de fim de semana”, teve passagens no rádio pela 98FM (Massaranduba), Radio Clube de Blumenau, PG2 (Timbó) e atua como programador musical da União FM (96.5), de Blumenau. Boina também é “escritor de fim de semana”, blogueiro e colunista. Atua no jornal A Cidade (Timbó) com coluna própria e como entrevistador. Quase todos os dias, traz A BOINA uma visão diferente do cotidiano em vários assuntos, com opinião, história e reflexões para todos os lados e gostos, além de apresentar gente muito boa na escrita em crônicas e opiniões dos colegas de jornalismo e afins.
