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Esporte: “Tempo e placar no Dêba”. Que falta que o “Galo” faz! Por Emerson Luis

“Galo” é um termo usado com frequência pela turma do rádio e da televisão, da mídia blumenauense em geral, quando alguém se refere com apreço a um determinado colega.

Muita gente virou “Galo” da noite pro dia.

Mas “Galo” mesmo, original, raiz, só existiu um: Rodolfo Sestrem.

36 anos dedicados à comunicação.

Vários prêmios como melhor narrador esportivo do estado.

Cinco Copas do Mundo consecutivas no currículo – narrou o tetra em 1994 nos Estados Unidos.

28 edições dos Jogos Abertos.

Vereador por três mandatos.

Que recebeu nome de rua, no bairro Itoupavazinha.

Transmitiu ao vivo pela Rádio Nereu Ramos a canonização de Madre Paulina.

Direto da praça de São Pedro.

No Vaticano.

Em 19 de maio de 2002.

Menos de um mês depois faleceu.

Com apenas 54 anos.

Sofreu um infarto fulminante no apartamento onde morava com a família, no Residencial Tropical, no Garcia.

Na última segunda-feira (1) no quadro “A Hora do Alô”, criado no Balanço Geral na NDTV para cumprimentar e agradecer a audiência dos telespectadores, o apresentador Rodrigo Vieira lembrou da data de aniversário da morte deste ícone do rádio.

Lamentou o fato de nunca ter trabalhado com Sestrem.

Normal, pois Rodrigo começou na lida em 2007.

E perguntou se eu tive esse prazer.

Respondi resumidamente que vivi momentos incríveis.

E que ele continua fazendo muita falta como pessoa e como profissional.

O esporte perdeu demais com a sua partida.

O Rádio esportivo então, nem se fala.

No tempo em que Sestrem era chefe de equipe, repórteres de campo como eu, recebiam salário.

Em dinheiro.

Na época, alguns aspirantes a narrador já aplicavam a artimanha da permuta.

Pagavam uma mixaria de cachê e completavam o resto do pagamento com x-salada, pizza, gasolina e afins.

Bastou Sestrem morrer para a turma colocar o plano em prática.

Integralmente.

Com raríssimas exceções nos dia de hoje.

Conheço gente que participou de uma ou outra transmissão ao seu lado.

Em jogos do BEC no Aderbal, por exemplo, onde o som de sua voz ecoava no giro do placar.

E gaba-se de ter feito parte de sua rica biografia.

Como não dá para escrever tudo o que vivi e aprendi nessa jornada, que foi rápida, porém intensa, vou me limitar a três fatos marcantes na carreira, após convivência direta com o mito, entre 1992 e 1996.    

Nunca tive o hábito de registrar a presença nos estádios e ginásios que trabalhei.

Não me culpo porque não tinha dinheiro para comprar uma máquina fotográfica.

Muito menos adquirir um aparelho de telefone celular recém chegado ao país (em dezembro de 1990).

Com o passar do tempo não mudei essa filosofia.

Mesmo assim, o fato de não ter uma foto sequer com Sestrem me entristece.

Menos mal que em 2013 tive o prazer de homenagear Tesoura Júnior, que foi sua fonte de inspiração, como primeiro personagem do “Memórias do Esporte” no então Jornal do Meio Dia da RICTV Record.

Tesoura morreu em janeiro do ano seguinte.

Tinha 97 anos de idade.

Tesoura Júnior e Rodolfo Sestrem. Foto: Arquivo Adalberto Day

1º de abril de 1992.

A maior experiência profissional que tive na vida.

Uma odisseia para um moleque de 20 anos que estava praticamente começando e que jamais havia viajado sozinho para São Paulo.

Muito menos imaginava fazer reportagem de um jogo da Taça Libertadores da América.

Em pleno Morumbi.

Véspera da partida.

Estávamos em reunião na Rádio Clube.

Logo após a apresentação da Marcha do Esporte, às 19h.

Sestrem decidiu que o repórter de campo seria eu.

Vibrei.

Ao mesmo tempo congelei.

Sestrem só poderia viajar no dia seguinte.

Ele “ordenou” que eu tomasse um ônibus às 22h na rodoviária.

Para desembarcar no Terminal Tietê às 6h, tomar um táxi e ir para um hotel que estaria reservado em frente à Praça da República.

E que me encontraria lá mesmo no centrão de Sampa.

Correria, aflição, emoção, satisfação.

Sestrem era assim mesmo.

Decidia as coisas em cima da hora.

Organização não era o seu forte.

No fim, tudo dava certo.

Só não deu para o Criciúma de Levir Culpi que foi goleado por 4 x 0 pelo São Paulo de Telê Santana.

Também fizemos juntos Corinthians 0 x 0 Criciúma.

Campeonato Brasileiro.

Estádio do Canindé.

15 de agosto de 1996.

Voltamos de avião novamente.

Quando ainda se pousava em Blumenau.

Na mesma aeronave Foker 50 da TAM estava a banda Titãs que faria show no fim de semana no Galegão.

Com Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Tony Belloto e Charles Gavin.

Outro momento ímpar.

Futebol e música no mesmo cenário.

Demais.

Por fim, pessoalmente, o ápice do relacionamento.

Jogos Abertos de São Bento do Sul.

1996.

Toda a equipe da Rádio Blumenau foi levada de Kombi para o norte do estado pelo saudoso Onélio Cavaco que era o coordenador da Rádio Blumenau.

Sestrem pegou a estrada mais tarde.

Nos JASC, tinha o hábito de se dedicar com emoção e afinco nos primeiros dias.

Arrebentava, como sempre.

Na reta final resolvia curtir a vida e a cidade.

Como sempre gostei do sereno, me tornei um parceiro etílico em algumas ocasiões.

Além de um poder de improviso impressionante, Sestrem era carismático demais.

Possuía uma luz muito forte.

A admiração só aumentava com sua genialidade espontânea.

A diferença é que na manhã seguinte, bem cedo, eu era obrigado a participar dos boletins, ao vivo.

O “Galo” sumia do mapa.

Na volta de São Bento apenas disse: toca.

Fizemos vários pit stops entre Corupá, Schroeder, Jaraguá do Sul e Pomerode.

Ao chegar em Blumenau Sestrem avisou que precisava dar “uma descansadinha de 30 minutos”.

Não pensei duas vezes e levei a figura para a minha casa.

Com seu jeitão simples e querido, cumprimentou minha mãe e meus dois irmãos, e cochilou por cerca de uma hora na cama que foi do meu falecido pai, que era um grande admirador seu.

Logo em seguida despertou, disse que estava bem para dirigir.

Se despediu, pegou seu Uno branco e partiu sem direção.

Fui o último contato mais íntimo que tive com o mestre.

Me sinto afortunado.

Honrado.

Privilegiado.

Rodolfo Sestrem.

Inimitável.

Insubstituível.

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