O esporte está parado.
No mundo todo.
Faltavam as Olimpíadas.
Ficou para 2021.
Como por ora não tenho como projetar as consequências e prejuízos sobre o tema central dessa coluna e também porque nunca gostei de encher linguiça ou me passar por um impostor, tomei a liberdade de viajar e escrever sobre música, nesses dias tão estranhos.
“Os assassinos estão livres, nós não estamos”.
As letras de Renato Russo têm muito a ver com o momento atual.
Estamos de fato enclausurados.

A obra da Legião Urbana é muito densa.
São 25 milhões de cópias vendidas.
Roberto Carlos (em atividade desde 1959) é o recordista no país com 140 milhões.
E ainda para efeito de comparativo, para quem gosta de estatísticas, a Gretchen (na lida desde 1978) vendeu 16 milhões.
A banda brasiliense (1982-1996) produziu oito álbuns de estúdio e seis ao vivo.
Um peso gigante na história da música brasileira.
Por isso, vou me limitar em dois trabalhos.
Grandes letras e melodias ficarão fora dessa análise.

Cada fã teu seu disco preferido.
O “Dois” é uma obra-prima.
Há quem considere “As Quatro Estações”, o melhor.
Ambos são ótimos.
Sempre curti mais o lado B (e até o C) de alguns artistas e bandas.
No caso da Legião, “o descobrimento do brasil”, de 1993, me agrada muito.
A grafia do título em letras minúsculas é proposital.
Ele fala sobre perdas, despedidas e amor.
Mas também sobra para o sistema.

A letra de “Perfeição” vai direto na jugular.
A ideia de Renato Russo era escancarar a podridão e a hipocrisia do país.
“Vamos celebrar epidemias”, ele canta em determinado momento.
Cada um interpreta música, poesia e discursos a sua maneira.
Ou de acordo com seus interesses.
Não deixem de ouvir (pela primeira vez ou novamente) “Só Por Hoje”.
“No fim das contas ninguém sai vivo daqui, mas vamos com calma”.
Mais factual, impossível.

Mesmo estando à frente do seu tempo, Renato Manfredini Júnior vivia uma fase deprê que culminou com sua morte em 1996.
Mesmo assim, sou apaixonado por algumas faixas de “A Tempestade”, o penúltimo disco.
“Não esconda a tristeza de mim, todos se afastam quando o mundo está errado, quando o que temos é um catálogo de erros, quando precisamos de carinho, força e cuidado”.
Triste e lindo ao mesmo tempo.
“O Livro dos Dias” também pode ser acompanhado aqui.

Decidi escrever sobre música porque ultimamente tem sido raro ouvir algum tipo de som aqui no prédio ou no bairro onde moro.
Óbvio que não há motivos para festas.
Mas não dá também para viver preocupado o tempo todo.
Dias desses alguém aqui perto tocou Bruno e Marrone.
A audição durou no máximo 10 minutos.
O silêncio faz eco.
De vez em quando tenho ouvido aqui no meu andar o bater das portas e o barulho do elevador.
Estou em casa encarcerado (com dois filhos pequenos que decidiram fazer uma competição para ver quem grita mais alto), estressado, fazendo a minha parte, cumprindo as determinações do governo, enquanto nas ruas a caminhada diária com o bichinho de estimação continua.
Por isso, a música, os filmes, as séries, o escape.
Temos visto apenas o noticiário local/estadual.
Nas redes sociais já existem os especialistas nacionais.
Quase todo mundo tem a receita do bolo.
Há muita controvérsia nisso tudo.
Se a gente levar tudo ao pé da letra, enlouquece.

Parece que estamos proibidos de expor nossos sentimentos.
É evidente que o momento é de preocupação e tensão, mas não podemos entrar em paranoia.
Logo no começo da fase de isolamento enviei mensagem para um primo para saber como ele, as irmãs e os meus tios estavam.
“Ganhei férias forçadas. Não paro de chorar. Tudo vai se acabar”.
Tem gente que pira mesmo.

Renato Russo em “Metal Contra as Nuvens” afirmou que “tudo passa, tudo passará”.
E vai passar mesmo.
É um sinal.
Mais um.
Bíblico.
Ou como profetizou Raul Seixas em “O dia em que a terra parou”.
Vou ficar por aqui porque a “loucura” de Raulzito (que para muita gente agora virou guru e gênio), merece um post à parte.
