Analisando meu último texto cheguei à conclusão que me precipitei ao criticar o passeio diário de algumas pessoas com seus cachorrinhos diante do que estávamos e continuamos vivenciando.
O mesmo raciocínio serviu para aqueles que caminhavam e corriam pelas ruas.
Me indignava até então o fato de muita gente estar se lixando.
Vinha cumprindo as determinações, trancado dentro de casa, isolado com a família.
Me incomoda ainda o desejo reprimido de uma caminhada, à noite.
“Você é uma pessoa pública. Precisa dar exemplo”, me advertiu a esposa.
Ao mesmo tempo me intriga saber que posso ir ao supermercado normalmente com suas aglomerações e filas demoradas.
É só se cuidar, passar álcool gel na entrada e na saída, manter uma distância de 1,5 metro (no caixa o espaço reduz para mais da metade), chegar em casa, colocar as roupas para lavar e tomar um banho, ensinam.
O que é errado?
O que é certo?
Nos últimos dias temos ficado cada vez mais confusos.
Parece que a ideia é essa mesmo: assustar, desorientar, desordenar.
Quem não reagir vai adoecer.
Na sexta (27) fui informado que esta semana entro em férias por 15 dias.
No sábado (28) voltei ao trabalho presencial.
No domingo (29) cometemos uma “infração”.
A Taysa e o Tales ficaram 13 dias seguidos dentro de um apartamento.
Olhando da sacada o parquinho fechado, a piscina interditada, tentando entender porque de repente todo mundo virou prisioneiro.
Crianças também se estressam, se irritam, criam expectativas.
Precisam passear (assim como os cães).
Fazemos um churrasco e pronto.
Quebramos o gelo e por alguns instantes voltamos a “normalidade”.
Colocamos os pequenos no carro e fomos dar um “rolê” pelo centro.
Com todos os vidros abertos – o corona não circula, está nas pessoas.
Ao sair de casa e sentir a brisa de um final de tarde de domingo fui novamente censurado:
“Já pensou se alguém te vê com esse carro cheio e com crianças?”
Como a tolerância de todo mundo anda no limite resolvi acionar a manivela.
Coincidência ou não vimos muitas famílias fazendo o mesmo, inclusive ao ar livre.
“Free as a Bird”- Livre como um Pássaro.
Por isso o título deste post.
A bela melodia dos Beatles pode ser acompanha aqui, com tradução.
Como amo música também cabe nessa hora Voa Liberdade, do Jessé.
Antes de voltar para casa, paramos para ver minha mãe e meu irmão.
Ficamos no carro.
Contato só visual.
Na última vez a vó Irma e o tio Jefe jogaram vôlei com a Taysa e o Tales na brita.
Tatá até sugeriu: o portão pode servir de rede!
Adorei a ideia.
Mais uma vez fui condenado:
“Um belo exemplo como jornalista”.
Estou pintando a Roberta como bruxa.
Longe disso.
Tenho uma parceiraça.
Que assim como muitas mulheres, não consegue nesse momento se dedicar apenas ao papel de mãe, precisa trabalhar, produzir, pagar contas, está cansada com tudo isso.
Minha mãe tem 72 anos.
Segue firme e forte.
O problema é que está entrando em parafuso.
Bem informada, assiste e ouve muita coisa.
E para complicar tem ainda os grupos de famílias no whatts para aumentar o grau hipocondríaco.
Ela defende o isolamento completo – não vota em ninguém faz tempo.
Só saiu de casa para ir na farmácia do bairro.
Foi uma surpresa quando chegamos sem avisar.
Mais uma vez tentamos explicar que não dá para levar tudo ao pé da letra, que existe uma queda de braço e muitos interesses nessa história toda.
Também dissemos que em meio a essa pandemia tem gente ganhando dinheiro para falar bem ou mal do governo, sobretudo nas redes sociais.
No fim convenci meu irmão a também “subverter” o decreto e levá-la para uma volta.
Perguntei a sensação.
Sua resposta cortou meu coração.
“A liberdade não tem preço, mas foi bem difícil ver as crianças e não poder abraçar, beijar, não poder ver eles felizes brincando. Fiquei com vontade de chorar”.
Essa também é uma das preocupações do momento.
Como os sentimentos são democráticos, estamos todos no grupo de risco.
