O Carnaval passou e o ano novo começou. Finalmente. Um país pobre, com 12 milhões de desempregados, que se dá ao luxo de paralisar completamente suas atividades por 10 dias para “festejar” o Carnaval, merece um estudo antropossociológico apurado. Mais de 90 mortes nas estradas, bilhões de reais gastos em alegorias de escola de samba e blocos, que se calcula colocaram cerca de 50 milhões de pessoas nas ruas. Juro que não consigo entender.
Então estamos num ano que começa já quase na metade. E as coisas ainda vão ter outros impactos no curso dos meses que faltam. Teremos eleições municipais em outubro próximo. Falta muita água para rolar até lá, mas as movimentações no tabuleiro político e eleitoral já são visíveis.
No âmbito nacional, temos um Governo Federal que representa um dos três poderes da República muito bem intencionado, mas vivendo uma guerra aberta contra os outros dois poderes, que têm feito de tudo, mas de tudo mesmo, para travar o país. Ainda assim, os números da economia e das relações sociais são animadores.
Somente para ficarmos com alguns exemplos: o desemprego está caindo; estamos vivendo com a menor taxa Selic da história; a Bolsa de Valores chegou ao recorde de 107 pontos; em janeiro tivemos superávit primário de R$ 40 bilhões – o maior da história desde que o índice passou a ser aferido nos anos 80; as estatais com lucros astronômicos que juntos chegam à casa dos R$ 100 bilhões; a implantação da Reforma da Previdência; nenhum escândalo de corrupção em 400 dias de governo.
No entanto, é nítida a intensão da velha estrutura de poder que corrói o Brasil há anos, de impedir que o presidente Bolsonaro se consolide como uma liderança que possa comandar a continuidade desse ciclo de prosperidade que se avista no horizonte.
O Congresso Nacional, infestado de agentes políticos acostumados a viver na boa vida, tenta desesperadamente impedir que o Governo governe, numa clara tentativa de implantação de uma espécie de parlamentarismo branco. Os presidentes da Câmara e do Senado, junto com alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e com veículos da grande mídia, conspiram abertamente contra o presidente da República – que embora não seja um lorde nos bons modos e nas declarações públicas – tem demonstrado que soube montar uma equipe técnica de alto gabarito e não está cometendo nenhum erro que coloque as coisas em risco.
A única acusação que pesa contra Bolsonaro é a sua “indelicadeza” política. No mais, nada, absolutamente nada de grave pode ser apontado contra qualquer integrante do Governo. Engrossam o coro contra o sucesso do Governo Federal alguns governadores, a exemplo de Dória em São Paulo, Witzel no Rio de Janeiro e Carlos Moisés em Santa Catarina. Todos farinha do mesmo saco, alpinistas e carrapatos eleitos na onda 17 em 2018, que viraram o cocho do qual foram beneficiados e pelo qual exercem seus mandatos.
Inegavelmente, esta luta em campo aberta é percebida pela nação que começa a sentir os efeitos nocivos no dia a dia. O que realmente está acontecendo é que essas forças que representam a velha política não querem abrir mão dos seus privilégios. Vamos a alguns fatos que não podem ser escondidos:
Temos um Congresso Nacional que se negou a votar grande parte das boas iniciativas propostas pelo Governo. Só para ilustrar, agora, além das bilionárias verbas das chamadas emendas parlamentares individuais, pelas quais os deputados e senadores têm direito de entregar dinheiro público a rodo, geralmente para sustentar estruturas e currais eleitorais (e eleitoreiros), esses parlamentares querem inserir as chamadas emendas de bancada. Essa brincadeirinha vai custar R$ 140 bilhões aos cofres públicos cada ano, beneficiando uma casta que, também só para esclarecer, parou de trabalhar para pular o Carnaval na quinta-feira passada e só vai voltar ao batente na terça-feira da semana que vem. Essa farra com o dinheiro público envolve ainda milhares de cargos de confiança, muitos com remuneração com duas ou mais casas decimais antes dos três zeros, carros com motoristas, passagens aéreas, previdência privada complementar vitalícia, planos de saúde familiares ilimitados etc, etc, etc.
No Judiciário não é diferente. Em alguns Tribunais – e em especial nos Tribunais Superiores – a banda toca na base do champanhe, caviar, vinhos de castas nobres, estruturas tentáculos e representação dissimulada em escritórios de advocacia que faturam bilhões de reais a cada ano. Sem contar que em alguns casos, falar em trabalho é ofensa pessoal.
Já na grande imprensa, não precisamos divagar muito, pois é visível que a teta secou. Daí que o berreiro é grande! Quem em sã consciência vai achar que desmontar esse vespeiro é coisa fácil? E veja que estou me referindo a vespas, não às abelhas…
É evidente que a teia política que mantem a estrutura dos poderes da República está corroída e sustentada por uma Constituição rota e sem sintonia com a realidade na qual gravitam parasitas acostumados a viverem com hábitos e mordomias de integrantes da realeza. Mas gradativamente, as coisas estão mudando rapidamente. E esse processo todo está decantando e vai influenciar diretamente nas eleições municipais deste ano.
Bolsonaro e seu Governo têm base social sólida, atenta e participativa. E o fenômeno das mídias sociais está aí e veio para ficar, para estimular esse apoio popular. Aqui na nossa janela, alguém com um pouco de lucidez poderia imaginar o fim do formato impresso do Jornal de Santa Catarina, do DC e de A Notícia há cerca de uma década ou até menos? E a queda brusca do poder de influência destes veículos na opinião pública, alguém poderia supor? E o surgimento de novas mídias com permeabilidade junto aos leitores, como é o caso deste Portal Alexandre José, que me honra com a publicação dessa coluna semanal? Alguém conseguiria prever?
Pois é! Estamos diante de um conjunto de novos comportamentos. Aquilo que os americanos chamam de new behavior subject. E houve uma inversão da pirâmide. A massa populacional, os eleitores (do mais humilde e menos esclarecido, ao mais culto e letrado) já perceberam isso e aderiram às novas métricas e estão atuando na plataforma digital.
Ocorre que a imensa maioria da classe política segue operando no modelo analógico. Fazendo do exercício da política uma plataforma de negócios sem espírito público e longe do ideal de servir. E se a banda seguir tocando nessa toada, Bolsonaro será novamente o grande capitão com capacidade de transferência de votos, nas grandes e pequenas cidades, com potencial fortíssimo de influenciar diretamente a eleição de milhares de vereadores e prefeitos pelo Brasil afora.
É aí que a coisa pega. É nesse ponto que o Congresso, o STF e a imprensa entram no módulo desespero. Não querem isso de modo algum, pois se isso acontecer e Bolsonaro se consolidar, será mais uma pá de cal sobre essa minoria que gravita em torno do poder há décadas.
Trazendo esse cenário para a nossa cidade, temos várias leituras possíveis:
O atual prefeito municipal Mário Hildebrandt faz uma gestão sem sobressaltos e é candidatíssimo à reeleição. No entanto, até por falta de opções, cercou-se dos mais legítimos representantes das velhas estruturas que atuam no município há mais de 30 anos. E isso traz um cansaço, um desgaste e um estimulo à renovação. Embora o prefeito Mário tenha acenado uma filiação ao Aliança Pelo Brasil, já é quase certo que essa agremiação não terá condições de atuar no pleito que se avizinha. Por outro lado, esse movimento cheirou a oportunismo junto de boa parte do eleitorado local. Não sei como o eleitor vai fazer a leitura deste movimento, que sofreu uma nítida reação contrária dos aliados históricos do presidente no Estado.
Por sua vez, o jovem, atuante e talentoso deputado estadual Ricardo Alba (o mais votado do Estado nas eleições de 2018), seguiu o governador Moisés e é tratado por grande parte do eleitorado de Bolsonaro como “traíra”. Diga-se que Alba é o principal parlamentar na defesa do governador junto à Alesc e que essa proximidade tem trazido alguns benefícios para a região, que embora bem-vindos, são extremamente pálidos, tímidos e rasos, se considerarmos a importância econômica e geopolítica do Vale do Itajaí. Mas, embora os recursos venham à conta gotas, estão vindo. Neste sentido (sem críticas, portanto) a atuação de Ricardo Alba frente à inexpressiva atuação dos demais parlamentares locais, faz dele uma liderança que gravita em outro patamar.
Existem outras candidaturas possíveis e prováveis “correndo por fora”. Nos cafés surgem os mais variados balões de ensaio. Desde um “remix” de João Paulo Kleinubing (aquela velha bananeira que já deu seus pequenos cachos) até outras candidaturas sem muito brilho nem expressão no momento.
Para concluir, sem exceção, todos os candidatos até aqui referidos nas rodas e nos buchichos tidos com potencial para se tornarem prefeitos, estão focados somente no processo eleitoral. Mas a mobilização que está acontecendo no Brasil, nos Estados e nas cidades é política. Intuo que pela primeira vez na nossa história republicana não será o comportamento eleitoral dos candidatos que irá definir a sedimentação política que vai levar à eleição; mas, na grande maioria das cidades, será a postura política do candidato percebida pelo eleitorado que vai gerar o resultado e o sucesso eleitoral dos candidatos que souberem se posicionar neste sentido.
O que sinto até aqui é que só temos candidatos agindo com base nas velhas práticas, repetindo exatamente os mesmos textos, gestos, composições sem lógica ideológica e movimentos partidários e de cooptação de lideranças que ninguém mais quer. Daí é que surge um espação para as surpresas, nas quais o eleitor blumenauense é tão apegado…

Luiz Carlos Nemetz é sócio fundador da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes Advocacia. Atua na Gestão Estratégica e nas áreas do Direito Médico e da Saúde, Direito de Família e Direito Empresarial.
Especialista em Economia e da Empresa (pós-graduação) pela Fundação Getúlio Vargas, habilitação para Docência, bacharel em Direito pela Universidade Regional de Blumenau na turma de 1983.
Professor concursado de Direito Processual Civil e Direito Econômico da Universidade Regional de Blumenau (FURB), onde atuou por 17 anos. Professor das cadeiras de Direito das Coisas e Direito Processual Civil, Execuções, pela Faculdade Bom Jesus de Blumenau (FAE), no ano de 2009.
